MARTA

MARTA
O ADEUS PRECOCE DA MINHA ESTRELA MAIOR

segunda-feira, 24 de dezembro de 2012

NATAL DE 2012

Marta
O Bruno fez esta árvore de Natal para desejar um Feliz natal aos amigos e conhecidos. Não pude deixar de a colocar aqui no teu blog pois ela é tão simples, tão estilizada e nem por isso deixa de ser bonita. Tu havias de gostar do Bruno, ele é meigo, muito compreensivo, muito criativo, muito tranquilo e sobretudo gosta muito da Rita. Como todo o ser humano tem os seus defeitos,  não é perfeito, mas quem é que sendo um ser normal não tem os seus defeitos? tu irias compreender isso e gostar dele como eu gosto. Ele é para mim o filho que eu não tive.
Apetecia-me escrever-te um pouco sobre o que vai ser o nosso Natal. A festa de Natal vai ser aqui na nossa casa, e vêm os avós Vitalino e Amélia, os tios Zé Manel e Tia Rita,a Patrícia, o pai e eu. Amanhã dia de Natal virá a Rita e o Bruno pois hoje passam a noite da consoada em casa dos pais do Bruno, em Albufeira.
Vamos comer o tradicional prato de bacalhau com couves e batatas, "burras" assadas no forno e alguns doces e bolos que eu fiz. Ontem a Patrícia veio ajudar-me a fazer as filhoses e gostei de estar com ela, está bonita e muito calma. Transmite tranquilidade e serenidade.
Não vou escrever mais. Apetecia-me escrever outras palavras, não este arrazoado de palavras fúteis, mas não quero ficar demasiado triste nem nervosa, pois tenho muitas, mas muitas saudades tuas, da tua alegria nestes dias festivos, da tua disponibilidade para ajudar a pôr a mesa, a  alegrar todos com a tua boa disposição.
Beijos da mãe Zuzu

quinta-feira, 13 de dezembro de 2012

EXCERTOS DAS " MINHAS CARTAS" PARA A MARTA



Minha querida Marta
Massamá, 15/6/1995   (2h 20m da madrugada)

(...)  A Rita veio passar uns dias connosco. (...) . Como eu sinto a tua falta nestes serões a 3!... faltas tu, com a tua presença a conversar das tuas coisas, a falares dos teus amigos, do teu dia-a-dia.
 Há quanto tempo tu não estavas connosco! O Paulo "roubou-te" e "levou-te" para sempre.
 Como sinto falta da tua presença no sofá, lado a lado com a Rita, com as pernas esticadas nos "pufos" ou encostada ao braço do sofá, olhando a televisão!
Para ti tudo acabou! Para nós, vai continuando o dia-a-dia, numa existência " parda", sem vontade de viver, mas sem dizermos uns aos outros que temos muitas saudades de ti, que os dias sem a tua presença são muito tristes e que não são os passeios à beira-mar que nos fazem felizes ou descontraídos. Pelo contrário, sentimos, pelo menos eu sinto, que a tua presença física nos faz imensa falta, o teu sorriso meigo, a tua maneira de falares connosco, a tua maneira boa de estares com todos nós. Porque não aproveitámos mais a companhia de nós os quatro? Ah, se nós soubéssemos as partidas que o destino nos prega! Como tudo teria sido diferente!...
                                           (...)
Mil Beijos da mãe
Zuzu

EXCERTOS DAS "MINHAS CARTAS" PARA A MARTA


Massamá,6 de Junho de 1995     (2h 56m da madrugada)
Minha querida Marta
Só agora te estou a escrever, pois estive a escrever a duas amigas minhas.
Uma é a Rosa Maria, minha colega e amiga de adolescência., que desde há 25 anos não nos tínhamos escrito nem voltado a comunicar. Foi preciso acontecer esta tragédia para que a nossa amizade se reatasse. (...) . É bom sabermos que os amigos estão connosco nestas horas difíceis.
A outra amiga, é a Beatriz, a mãe da Leonor, que te foi fazer companhia há um mês; será que vocês estão no Paraíso e se encontraram? Também ela era boa, meiga, simpática para todos e também ela encontrou a morte da maneira mais horrorosa e brutal!...
Será verdade que a tua alma está viva? Que tu estás no Paraíso?
Não, eu  não acredito, tu estás a viver através de mim, dentro de mim, respiras por mim e vês o mundo comigo, pois tu estás presente em mim desde que partiste. Tu dás comigo as minhas aulas, tu ajudas-me a enfrentar os momentos difíceis que eu tenho, por isso tu estás sempre presente.
Hoje o dia correu-me bem, fui para as aulas sem vontade nenhuma, mas depois de lá estar, senti-me melhor  e o dia correu dentro da normalidade.(...)
De manhã, não tenho nunca vontade de acordar nem de me levantar. É com um esforço enorme que me levanto e me preparo para ir para as aulas. Penso tantas vezes em ti, que nunca tinhas preguiça para te levantares, que estavas sempre pronta às sete horas da manhã para ires apanhar o comboio que te levava para as tuas aulas, na Escola da Paiã! e afinal tanto sacrifício para quê?
Tudo acabou tão rapidamente para ti, meu amor, minha pequenina...
Vou tentar dormir, não tenho sono, mas amanhã tenho que ir para a escola mais cedo.
Muitos beijos da mãe amiga
Zuzu

EXCERTOS DAS "MINHAS CARTAS" PARA A MARTA


Massamá,4 de Junho de 1995
Minha Querida Marta
Faz hoje quatro meses que tu partiste.
Levei muito tempo a acordar e a levantar-me, porque não queria enfrentar a realidade do dia, depois por volta das 14 horas, resolvi levantar-me.
Não me apetecia fazer NADA. Sentia uma angústia e uma tristeza, dentro de mim, que se mantiveram e ainda se mantêm neste momento, meia-noite!.
O pai tenta dormir a meu lado e eu escrevo-te para te relatar o meu dia; Triste dia!... Não saí à rua. Estava um dia maravilhoso de Verão, o Sol brilhava intensamente, o céu estava azul e límpido, sem uma nuvem no céu. Não me apetecia sair, não me apetecia estar em casa, não me apetecia nada...
Depois do almoço, eu não almocei porque não tinha vontade, comi apenas uma meloa, resolvemos, o pai e eu, ir arrumar os teus livros e cadernos na arrecadação. Já há alguns dias, que eu trouxe um caixote enorme de cartão da rua e enchemo-lo com as tuas coisas, ficou tudo arrumado. (...).
Pude ver como os teus apontamentos estão organizados, muito limpos, tudo em ordem, como tu eras cuidadosa com os teus estudos!...
Quantas e quantas horas não perdeste ( ou ganhaste?) a passar tudo a limpo!...
Tanto que tu gostavas do teu curso! Como tu estavas feliz quando foste para Beja!... Que força malévola te empurrava para aí encontrares a morte?
Tu, trabalhadora e cuidadosa, andavas preocupada por não conseguires obter os resultados que merecias! Tanto que tu estudavas! Como eras empenhada e responsável!... Não posso pensar que tanto trabalho e esforço não te beneficiaram em nada, em duas horas tudo acabou para ti .... como não devo andar revoltada com a vida? Para que vale a pena viver e lutarmos?
Não, não somos nada, não valemos nada; tudo é efémero, a Morte é mais forte do que nós, do que tudo! ...
Cada dia que passa me sinto mais revoltada. A saudade IMENSA, que tenho dentro de mim, não me deixa ver a vida com um mínimo de optimismo. Tenho tantas saudades tuas!...
Onde irei arranjar forças para superar e enfrentar esta saudade, esta tristeza, esta angústia, que dia-a-dia cresce como  nuvens escuras empurradas pelo vento e que tornam todo o firmamento negro e ameaçador. Cada vez mais, se adensa a tempestade dentro de mim. A tristeza no meu coração negro, negro de dor e saudade, aumenta dia a dia.(...)
Vou ler um pouco para tentar acalmar esta angústia e esta tristeza.
Até amanhã.
Mil beijos da mãe que te adora     Zuzu

EXCERTOS DAS "MINHAS CARTAS" PARA A MARTA


Massamá, 3 de Junho de 1995

Minha querida Marta
Hoje, nos Brados do Alentejo saiu a notícia da tua morte.
Aqui está mais uma maneira de me despertar para a realidade.
Na verdade, bem preciso de que me convençam de que o que te aconteceu no fatídico dia 4 de Fevereiro é a REALIDADE.
A tua fotografia na página da necrologia é a prova evidente que tudo o que se passou não foi um pesadelo.
 Porquê?
Porquê a ti, minha querida e boa filha???
NÃO HÁ RESPOSTA ! ...
Mil Beijos da mãe
Zuzu

EXCERTOS DAS" MINHAS CARTAS" PARA A MARTA


Massamá,3 de Junho de 1995     (2 horas da manhã de Domingo!)

Minha querida Marta 

Passei quase todo o dia de Sábado a arquivar os teus desenhos e os desenhos feitos pela Rita.
Desenhos infantis cheios de amor e alegria, que vocês gostavam de oferecer ao pai, à mãe e aos avós. Procurei arrumá-los o melhor que pude, para poder vê-los quando me apetecer.
Aproveitei o dossier muito bonito que tu me ofereceste no dia dos meus anos para guardar os teus desenhos e as tuas cartinhas.
O pensamento voa-me para ti e não consigo escrever-te. Procuro concentrar-me, mas hoje é difícil. Cada dia que passa, tenho mais saudades tuas.
Quando estava no cabeleireiro, apareceu o Pedro, filho da D. Olívia, que é da tua idade (22 anos), morou sempre no nosso prédio da Rua das Camélias,  sempre cresceu junto de vocês, bem como outros  amigos do prédio.
Falou da tua simpatia e da maneira como ele se lembra de ti e da Rita, das brincadeiras na rua e de como todos eram amigos. Não consegui controlar-me e chorei; não queria chorar, mas a minha tristeza é maior do que a minha vontade. Como eu estou a sofrer!...(...)
O pai teve uma das suas enxaquecas, teve que tomar 2 comprimidos e estava muito abatido. Cada dia que passa, mais difícil é para ambos enfrentarmos a realidade.(...)
Muitos beijos da mãe amiga
Zuzu

EXCERTOS DAS "MINHAS CARTAS " PARA A MARTA


Massamá, 2 de Junho de 1995           (1h 20m)
Minha Querida Marta
Como foste sempre tão meiga e amiga de partilhar o imenso amor que tinhas dentro de ti!...
Tenho estado a ver os desenhos e as cartinhas que nos escrevias a mim e ao pai, quando eras pequenina. Desenhos cheios de ternura e que lembram a menina meiga e boa que tu eras e sempre foste.
Como não me apercebi quando nasceste, de que serias uma menina especial e que estarias tão pouco tempo  (apenas 21 anos! ) comigo? Porque não descobri que deveria ter-te acarinhado, amado e dado mais atenção em todos os momentos da tua vida? já que esta foi tão curta?
Lembro-me das longas conversas que tinhamos quando começaste a tua adolescência. Todas as noites, tu tinhas dúvidas, estavas triste, sentias-te perdida, desencontrada, dividida ... então eu procurava pôr as ideias mais organizadas na tua cabeça. Eu conversava muito contigo e tu ouvias, porque sempre soubeste ouvir!... Quantas e quantas noites, não me fui deitar já bastante tarde e muito cansada, porque os teus " problemas" de adolescente não tinham fim.
Hoje, que sei que nunca mais poderei falar contigo, revolto-me e fico irritada comigo por não te ter dado ainda uma maior atenção e mais carinho.  Tu sempre foste tão boa e meiga!... adoravas o pai, a mãe e a Rita ... éramos para ti, os seres mais importantes que te rodeavam ... Eu não podia adivinhar que seria tão passageira a tua vida aqui na Terra.
Amanhã, vou arrumar os teus cadernos, e outros materiais que trouxemos de Beja. Vamos guardar tudo na arrecadação, para que não se estraguem.
Os teus livros estão na tua estante do escritório, e ainda não tive coragem de lhes mexer. Como tu estimavas as tuas coisas! Como tratavas todas as tuas coisas pessoais com carinho e amor!... Os objectos mais insignificantes tinham para ti o mesmo valor de uma coisa importante... Amanhã vamos arrumar tudo, de modo a podermos vê-los quando nos apetecer…para vermos como tu, Marta eras tão organizada, tão trabalhadora e muito cumpridora das tuas obrigações.
Apetece-me chorar alto. O pai dorme a meu lado e eu queria chorar, chorar para aliviar esta dor imensa que me oprime. Como é possível ter-nos acontecido isto a nós? A ti, minha querida filha, tão boa, tão meiga, tão amorosa. Como eu tenho saudades tuas!... Como eu estou revoltada com esta vida horrível que me estava destinada!...
Até amanhã.
Muitos beijos da mãe  Zuzu

EXCERTOS DAS "MINHAS CARTAS" PARA A MARTA


Massamá,9 de Maio de 1995
Querida Marta
Hoje foi um dia triste. Fui com a Patrícia  ao funeral da Leonor.
Quatro meninas boas como tu, partiram para sempre. Como é possível que tal aconteça?!... Como Deus é tão cruel com meninas inocentes, verdadeiras, sinceras, meigas e amadas por todos aqueles que as rodearam?!
Tudo aconteceu na madrugada de Sábado para Domingo, pelas 3 horas da manhã, cinco meninas, amigas desde crianças, foram passar a noite juntas numa discoteca. Quando vinham para casa, o carro despistou-se e incendiou-se imediatamente, uma jovem foi cuspida do carro, as outras ficaram presas num inferno de chamas, não conseguiram sair e morreram carbonizadas.
A Leonor, tinha 18 anos, era boa e meiga, tinha muitos amigos, como tu, e era bonita. (...)
A mãe, a Beatriz estava inconsolável; tinha aquela expressão de incredulidade com que ficam aqueles que não acreditam no que lhes está a acontecer. É um pesadelo tão grande, tão brutal, tão terrível que pensamos, a todo o momento ir acordar dele e pensar de que tudo não passou de um pesadelo!... Mas, na verdade, tudo é real, tudo é verdadeiro, tudo se está a passar e a desenrolar-se perante nós.
Como compreendi tão bem o seu sofrimento! Como compreendi a angústia de não ter lágrimas para chorar; como é que estamos tão tristes, tão desgostosos e não temos lágrimas? porque acontece isso?!(…)
Cheguei a casa com uma dor de cabeça horrível. Tomei uma aspirina, mas o comprimido pouco ou nada me fez.(...)
Até amanhã
Muitos beijos da mãe  Zuzu

EXCERTOS DAS MINHAS CARTAS PARA A MARTA


8 de Maio de 1995
Querida Marta           

Passámos o fim de semana em Tavira com a Rita. Foi um fim de semana calmo e sossegado. No Domingo era Dia da Mãe, eu estava triste, mas ao mesmo tempo estava calma por estar com a tua irmã Rita, que faz um esforço para não nos decepcionar e procura ser meiga e receber os meus beijos, apesar de não se manifestar muito. Tu sabes como ela é. Não é muito de grandes efusões nem de grandes manifestações sentimentais, mas como sabe que eu não te tenho a ti, que me davas muitos beijos e muito carinho, ela procura receber os beijos e dar alguns em troca, mas como sabes não são muito espontâneas essas manifestações.
Cada dia que passa, sinto mais a tua falta!... Como gostarias de estar aqui connosco, em casa da Rita ... a casa é muito alegre, muito acolhedora. Tem muito Sol  e uma vista lindíssima para a Serra e para a Ria de Tavira. (...)
Hoje de manhã, fomos a Monte Gordo dar uma volta; estivemos numa esplanada na praia, que está povoada de velhos alemães e holandeses felizes com o Sol de Portugal. Depois fomos ver o apartamento do Dr. Borges, para onde costumávamos ir passar férias. Tu eras tão pequenina!... eras tão linda!... adoravas  a praia, o mar, o Sol, brincar com os outros meninos!...
A tua lembrança é constante dentro de mim, a tua presença física não se vê, mas eu sinto que tu nos acompanhas para onde quer que nós vamos, tu estás sempre connosco, apesar de não o dizermos uns aos outros.
A viagem de e para o Algarve torna-se muito maçadora e angustiante. Reparo no trajecto que tu tantas e tantas vezes fazias entre Lisboa/Beja e Beja/Lisboa, vejo todos os pormenores da estrada, todos os cafés, todos os locais que rodeiam a estrada e que foram vistos por ti, muitas e muitas vezes.
Por isso, quando ali passo, sinto que a tua presença é mais forte e mais sentida.
Agora, quando chegámos a casa, por volta das 21 horas, telefonou-me a Patrícia, tua prima, dizendo-me que tinha morrido a filha da Maria Beatriz, minha prima e amiga de infância.
Se houver Vida Eterna, tu estás com ela...
A filha da Beatriz chama-se Leonor, tem 18 anos, é uma menina bonita e boa como tu, também ela morreu brutalmente e de uma morte estúpida, como afinal é a morte, estúpida e horrível!
Teve um desastre na Marginal de Cascais, com mais quatro amigas, o carro despistou-se e morreram queimadas dentro do carro. Deve ter sido uma morte terrível, nem teve tempo para fugir à morte, como tu também não tiveste. Tanto que eu te dei força "Força, Marta! Não te deixes vencer pela Morte!... Força Marta, que tu és forte; Marta não te deixes ir porque a Mãe está Aqui!!!
Mas, o meu apelo não chegou até ti, os tentáculos da morte agarraram-te e levaram-te serenamente.
Penso que tu não te apercebeste que estava a chegar o teu fim, foi tão bruscamente, que não tiveste tempo de reagir à morte, e hoje eu estou destroçada e destruída.
A realidade é que para morrermos não precisamos de muito, basta a morte lembrar-se de nós, naquele momento. De ti, a morte lembrou-se tão cedo e eu não consegui afugentá-la!...
Penso no desgosto da Beatriz, no que ela está a sofrer, sinto que deveria estar junto dela para lhe dar um pouco do meu conhecimento de Mãe Sofredora, de Mãe que perdeu uma filha linda, boa, meiga, e que não sabe ainda como reagir à dor.
É tão fácil dizermos aos outros que compreendemos a sua dor; é tão fácil dizermos que avaliamos a sua dor, mas, na verdade, a dor é tão grande, tão grande que só quem passa por uma situação igual é que poderá avaliar o que a outra mãe está a sofrer.
Nunca pensei que se pudesse sofrer tanto, que a angústia e a tristeza fossem minhas companheiras diárias, eu que tanto gostava de rir, de falar, de conviver, hoje convivo com a tristeza, contigo dentro de mim e nada mais me interessa.
Vou dormir, ou melhor, tentar dormir!...
Amanhã de manhã vou acompanhar a minha amiga e procurar dar-lhe um pouco de conforto.
Devia ter-se uma idade para morrer; devia ser proibido morrer-se jovem, com vontade de viver e com muita força de vencer na vida, só se deveria morrer quando tivéssemos a nossa missão cumprida. Tu não pudeste concluir a tua e agora eu choro por saber que tenho que levar o resto da minha existência cheia de tristeza e muita saudade de ti, minha pequenina, minha "castanha", meu amor da mãe.
Beijos da mãe Zuzu

EXCERTOS DAS "MINHAS CARTAS" PARA A MARTA

Diário nº1
28 de Abril de 1995 - Sexta-feira ,19h 45m

A Espera...
Para quê esperar? Sei que não vens.
Virá a tua irmã, a tua amiga
Tu não aparecerás...
Afinal eu não estou à tua espera!...
Tu estás sempre dentro de mim.
Sinto-te, presença suave e calma
Presença atribulada e conflituosa...
Durante nove meses esperei que te tornasses gente para que conhecesses o Mundo.
Alimentei-te com o meu sangue, senti-te mexer e remexer...
Andava angustiada porque mostravas pressa  de te libertares de mim.
Então, o médico ajudou com injecções e injecções, todos os dias levava duas!...
Andava com medo de te perder.
Sentia que trazia dentro de mim uma "coisinha”,  que iria ser muito importante para todos.
O teu nascimento foi tão doloroso ... penso que foi para nós as duas!...
O teu esforço foi tão grande que tiveste que ficar durante 12 horas, na incubadora, mas tu eras forte e conseguiste ultrapassar os teus primeiros momentos de vida.
Como eras linda! Eras uma bébé perfeita e bonita ...
Não quis amamentar-te, pois tive medo de ter outra mastite, hoje estou arrependida. Gostaria de te ter alimentado com o meu leite, durante os teus primeiros meses de vida, quem sabe se não terias mais resistências.
Como tu eras saudável! Nunca estavas doente! Estavas sempre pronta a comer!... Sorrias constantemente, eras feliz e todos estávamos felizes por termos mais uma " coisinha fofa" em casa.
Sabes? Hoje, a tua presença dentro de mim é tão forte, que te sinto dentro do meu coração.
Minha querida! Como é possível durante 24 horas sentir que estás sempre comigo?!
A tua falta é enorme. Quando o vento sopra, de mansinho nas folhas das árvores, eu penso como tu o gostavas de sentir.
Quando o Sol é forte e transpiro dentro do carro, lembro-me de quanto tu eras encalorada e ficavas vermelha com o calor!
Estou à espera da Rita. Telefonei para onde ela está, afinal ainda está na consulta!... Como ela tem sofrido, sem querer mostrar o seu sofrimento!
Sabes? Ela esforça-se para mostrar uma força interior muito grande, uma vontade de viver  mesmo sem ti, mas eu sinto, com o meu coração de mãe, que ela está a fazer um esforço grande de mais...

quarta-feira, 12 de dezembro de 2012

A PRAIA

                   A PRAIA
               
As ondas ritmadas desfazem-se na areia solitária.
O céu, cor de chumbo, reflecte-se na água. A água é escura e triste.
Estou só. Estou acompanhada pelo pensamento em ti.
Penso em ti...
Olho o mar, as gaivotas, o céu nublado e cinzento.
Uma gaivota branca não tem forças para voar. Procuro ajudá-la. Não consegue reagir, vai morrer ali mesmo. O bando ignora-a. Voam de um lado para o outro, poisam junto às águas sujas do esgoto.
Pobre jovem gaivota. Também ela não vai saber o que é envelhecer. Tal como tu, que partiste na flor da idade, que partiste quando começavas a descobrir o bom que é viver.
Olho-a, respira com dificuldade. Não tem forças para levantar a cabeça. Não pode mexer-se. As patas estão inertes, sem forças para susterem o corpo jovem, de lindas  e sedosas penas brancas e azuisl.
Olho-a e lembro o teu sofrimento. Lembro os momentos dramáticos que passámos. Eu nunca pensei que tu partisses assim, daquela maneira.
Tu, forte e saudável, a mais saudável de nós todos, nunca poderias partir assim! longe de mim tal ideia. Sempre pensei que recuperasses.
Hoje, revolto-me por ter acreditado nos médicos e de não ter ido para o pé de ti, assistir aos teus últimos momentos, assistir contigo ao teu último suspiro.
Os médicos foram egoístas, não me disseram que tu estavas a morrer, ou por outra, talvez eles mo dessem a perceber, só que eu nunca pensei nisso.
Pensei que era uma coisa passageira, um mal estar, uma indisposição e que tudo seria resolvido. Afinal, nunca mais te vi com vida, minha querida, minha pequenina. Quando beijo a tua fotografia sinto o frio do teu corpo morto, a sensação é a mesma, por isso, tenho alguma dificuldade em beijar o teu retrato.
Olho-os, vejo-os, mas raramente os beijo, porque o frio do vidro me transporta para momentos dolorosos, que apesar de não querer esquecê-los, também me é difícil recordá-los.
 Carcavelos 7 de Dezembro de 1995
Da mãe Zuzu

O NASCIMENTO 21 DE JANEIRO DE 1974


O nascimento
            Numa tarde fria de Inverno, pelas 16 horas, do dia 21 de Janeiro de 1974, nasceu a Marta na Clínica de S.Gabriel em Lisboa. Para vir ao mundo a Marta teve que lutar muito, pois tanto a gravidez como o parto foram bastante conturbados. Sinais constantes  de aborto, obrigaram-me a tratamentos constantes e a um repouso que me deixavam muito nervosa e ansiosa. Com sete meses de gravidez, voltei a ter sinal de aborto e por isso  tive que ter mais repouso, para ver se o bébé nascia na data prevista. Quando faltavam umas duas semanas, eu, o pai e a Rita resolvemos ir de malas e bagagens  para Benfica, para casa da avó Amélia e do avô Vitalino para ficármos mais perto da clínica.
Entrei na Clínica dia 20 por volta das 10 horas da noite. Sentia grandes contracções e estava na data prevista para o parto. O meu médico assistente era o director da clínica e eu sentia-me apoiada, além disso, a Rita tinha também nascido ali e apesar de ter nascido de cesariana, tudo tinha corrido bem.
O médico convenceu-se de que como era o segundo filho, eu teria um parto normal, então, devido a essa ideia do obstetra tudo se complicou. Comecei em trabalho de parto, com muitas dores,  mas a dilatação não se fazia, e o sofrimento começou a ser muito grande.
 De tempos a tempos, aparecia uma enfermeira e eu pedia-lhe que chamassem o médico, pois sentia que não aguentava por mais tempo, tantas dores. Passadas não sei quantas horas, para mim foram uma eternidade, comecei a descontrolar-me e penso mesmo que perdi os sentidos. Chamaram o médico e imediatamente fui para a sala de operações, onde me foi feita uma cesariana. Nasceu uma menina perfeita, mas já com sinais visíveis de sofrimento, por isso a bébé foi para a incubadora onde esteve cerca de doze horas. Só no dia seguinte vi a minha bebé.
Partilhei o quarto da Clínica com uma jovem parturiente inglesa que dera à luz um rapaz. Ela disse-me que se tivesse tido uma rapariga  chamar-se-ia Marta. Fiquei a pensar no nome, que me soou bastante bonito e imediatamente pensei que a minha bébé chamar-se-ia Marta.
Como gosto de nomes pequenos, logo ficou decidido, que este seria o seu nome.
A Marta sempre gostou muito do nome dela e às vezes, chamávamos-lhe de uma forma carinhosa  Martinha ou Martocas.
Foi uma bébé muito saudável e bem disposta. Quando fez um ano de idade já andava e dizia algumas palavras. O facto de conviver com crianças, um pouco mais velhas que ela, do prédio, da rua e com os primos, desenvolveu-a e tornou-a muito sociável.
AMarta tinha três meses quando se deu a Revolução do 25 de Abril de 1974. A partir dessa data, o nosso país sofreu  grandes modificações políticas e sociais.
Tanto eu como o Zé éramos muito jovens e há muito que desejávamos  mudanças no regime, por isso esperávamos que a Revolução do Movimento das Forças Armadas viesse a  transformar Portugal num país democrático, como na verdade veio a acontecer, onde todos os cidadãos pudessem participar na escolha dos governantes, onde não houvesse censura, nem polícia politica e sobretudo que acabasse com a guerra no Ultramar, a qual parecia nunca mais terminar.
           Vivíamos intensamente todas essas mudanças, necessárias para a libertação do  país de  40 anos de ditadura, mas como tínhamos as crianças muito pequenas não nos era possível uma participação mais activa. Foi com enorme e grande entusiasmo que participei na grande manifestação do 1º de Maio de 1974, enquanto o Zé ficou com as crianças, vendo pela televisão toda aquela  enorme multidão que  saiu da Alameda Afonso Henriques, subiu a Av. Almirante Reis para se dirigir ao estádio 1º de Maio, onde os principais dirigentes políticos puderam usar da palavra. Tudo era novo e apaixonante para quem nunca tinha podido expressar livremente as suas ideias.

O PEDIDO DE CASAMENTO 12 DE MAIO DE 1994

MARTA COM A AVÓ AMÉLIA NO DIA DO PEDIDO DE CASAMENTO




No dia 12 de Maio de 94 escreve:

                          "12 de Maio
Hoje foi um dia muito importante para mim.
O Paulo pediu-me em casamento aos meus pais, não marcámos data, mas se tudo correr bem daqui a um ano ou menos.
O Paulo fez tudo como manda a "praxe",  pediu ao Zé Maria e à Paula para irem a minha casa beber café, depois de um pouco de conversa o Zé Maria fez o comunicado.
O meu pai ficou muito admirado, pois nem ele nem a minha mãe desconfiavam de alguma coisa. Só a minha avó Amélia estava um pouco desconfiada, ela ficou muito emocionada. Penso que os meus pais ficaram contentes, mas não demonstraram muito. O meu pai como era de esperar começou logo com os seus  pessimismos, a minha mãe reagiu como eu esperava.
Foi um dia muito feliz, mas muito emocionante para mim.
A Paula estava muito feliz.
E eu e o Paulo também gostamos de nos tratar por "noivos".
A Paula e o Zé Maria foram muito simpáticos.
Espero que  eu e o Paulo. sejamos muito felizes."

MARTA NO DIA DO PEDIDO DE CASAMENTO


















O pedido de casamento da Marta apanhou-nos de surpresa. Calculávamos que um dia eles pensariam em casar-se, mas como já viviam juntos, sem nos terem perguntado nada, achávamos que não haveria pedido de casamento.
O Paulo andava muito entusiasmado em explorar uma propriedade do pai dele, localizada perto de Beja, por isso, decidiram pedir um subsídio ao Ministério da Agricultura para plantar sobreiros e azinheiras. A Marta fazia parte da "sociedade" , como jovem estudante da Escola Superior Agrária e era também responsável pelos empréstimos ao Ifadap. Quando ela disse que o Paulo queria vir a nossa casa, com a mãe e o Zé Maria, eu pensei que seria por causa do empréstimo, mas não deixei de ficar um pouco desconfiada.
Nesse dia, a Marta tinha uma consulta de estomatologia na Dr.ª Armanda, por isso,  o Zé veio mais cedo do Banco, para a levar a Oeiras. Como esteve cerca de duas horas para  desvitalizar um ou dois dentes, quando chegou aqui a casa, vinha muito mal disposta, muito branca e cheia de dores de dentes. Ela estava nervosa e preocupada, pois sabia que o Paulo e a mãe apareceriam dentro de pouco tempo. Deitou-se no sofá e o aspecto dela era de quem estava com muitas dores. Eu estava muito preocupada com a Marta, sempre sofreu com dores de dentes e quando devia estar bem, com boa disposição,estava mesmo doente.
Pedi à minha mãe que fizesse um bolo para o café. Eu andava a dar assistência à Marta e a organizar as coisas. Quando fomos tirar o bolo da forma, este começou a baixar, a baixar e a minguar  e ficou com um aspecto horrível. A minha mãe  disse que nunca tinha feito um bolo tão ruim!
Qualquer coisa superior a mim fazia-me sentir angustiada e nervosa, eu não percebia o que se estava a passar comigo, mas eu  pressentia alguma coisa de ruim, algo que iria empecilhar a felicidade da minha Marta, por isso, sentia-me apreensiva.
 Olhava a Marta, via-a muito mal encarada, mas feliz. Porque estaria eu assim?
Hoje sei a razão e por isso fico muito angustiada e muito triste.

O Paulo ofereceu-lhe um anel de noivado, que a Marta nunca mais tirou do dedo. Ela adorava aquele anel e toda a sua simbologia.


No mês de Agosto de 1994, como o Paulo tivesse um apartamento para alugar em Tróia, decidi pedir-lhe que nos alugasse o apartamento. Os meus pais também foram passar lá os 10 dias de férias. A Marta e o Paulo decidiram também ficar connosco. Tanto eu como o Zé sentíamos que algo não estava bem.
Não gostei do relacionamento entre eles. O Paulo enervava-a imenso e por vezes o ambiente era tenso. Ele andava nervoso e conseguia contagiar-nos a todos com o seu nervosismo. Ficava na pesca horas intermináveis e a Marta sentia-se na obrigação de o acompanhar, para sítios muito isolados, onde não havia ninguém. Por vezes ela ficava connosco e durante o tempo de férias senti que a Marta andou sempre muito dividida e ansiosa para poder contentar a todos, a nós e ao namorado. 

Beja – 1994

Alguns meses depois, talvez em Setembro ou Outubro, não sei precisar quando, por volta das 10 horas da noite, recebemos um telefonema da Marta de Beja, a chorar imenso, bastante descontrolada e nervosa, dizendo-nos que ela e o Paulo tinham tido uma discussão e que este fizera a mala e tinha saído de casa. Chorava desseperada e estava muito triste; do lado de cá da linha eu sentia a desorientação dela. A Marta não gostava de discussões e ficava completamente perdida quando alguém discutia com ela. Eu sentia-me impotente, estava longe, e não sabia o que dizer-lhe numa situação tão dramática. Ela pedia-me ajuda e eu não podia dar-lha. Disse-lhe que se acalmasse, pois se o Paulo gostasse dela, ele voltaria. Que se descontraísse e se acalmasse que tudo tinha uma solução. Ela ouvia-me com muita atenção, era uma das características da Marta o ouvir-nos e acatar os nossos conselhos, penso que as minhas palavras a consolaram e a acalmaram um pouco. Desligámos o telefone. Eu fiquei muito preocupada, pois sabia que a minha filha estava sozinha e longe, sem que eu pudesse apoiá-la. Passado algum tempo, voltei a ligar-lhe. Encontrei-a mais calma e mais resignada. A Marta tinha estado a falar com a mãe do Paulo  e esta também a tinha tranquilizado, dizendo-lhe que ele voltaria. Ao fim de uma duas ou três horas, a Marta telefonou-me, dizendo-me que o Paulo voltara, que tinham tido uma grande conversa e que ele decidira ficar.
Este incidente alertou-me para a fragilidade desta união, afinal não era tão sólida e estável como estávamos a pensar. Depois disso, apercebi-me algumas vezes que a Marta sofria com certas atitudes do Paulo e que este não se preocupava muito quando dizia uma palavra que a magoava e por vezes, eu sentia que o Paulo menosprezava a Marta, quando ela era, em muita coisa, superior a ele.
A Marta sabia aquilo que queria para o seu futuro, tinha um objectivo concreto a realizar, esforçava-se para concluir o seu curso o mais rapidamente possível. Estava com  muita  vontade para que esta união, que ela assumiu, desse certa e, por vezes, anulava-se um pouco perante o feitio crítico e complicado do Paulo. Este, desde que viviam juntos, procurava empregos e ocupações que lhe dessem uma independência financeira, mas nunca o conseguiu. Penso que foi um dos motivos por que esta união passou  tantas atribulações.

No Natal de 1994, notava-se um certo mal estar entre eles. Chegaram de Beja no dia 24 de Dezembro, vinham um pouco tensos, sentia-se que "as coisas" não estavam bem. Percebi que estavam com pouco dinheiro e que queriam ir fazer compras de Natal, isso incomodava-os bastante. Dei algum dinheiro à Marta e saíram para fazer as compras.
A Odília e o Rodrigo tinham-nos convidado a passar a noite da consoada na Marisol, para estarmos todos juntos, com a avó Dolores e a tia Pulquéria que vieram de Amareleja para passar o Natal connosco.
A Marta e o Paulo estavam sentados à minha frente. Não me lembro quais os temas de conversa havidos durante a ceia de Natal, recordo apenas a Marta a esforçar-se para que o Paulo estivesse mais bem disposto e se descontraísse, pois ele mostrava um certo enfado por estar ali.
Sentíamo-nos relativamente bem. Estávamos em família, reunidos como acontecia em tantos Natais. Faltava o avô Baleiro, que nos tinha deixado para sempre, há dois anos. Nada fazia prever  que estivéssemos tão próximos de uma tão grande fatalidade. Ah, se nós pudéssemos adivinhar o futuro!...Saberíamos viver intensamente todos os acontecimentos, dos maiores aos mais insignificantes.
No dia seguinte, o almoço do Dia de Natal foi como todos os almoços de um dia de Natal, não me lembro se a Marta veio sozinha almoçar, se veio com o Paulo, penso que estava sozinha e o namorado foi almoçar com o pai ou com a mãe; há um vazio enorme na minha memória do que foi esse Natal.
Logo a seguir ao Natal, foram-se embora para Beja. Desde que começaram a viver juntos, a Marta ficava o tempo indispensável connosco, já estávamos habituados, mas às vezes, não resistíamos a perguntar-lhe se ela não quereria ficar mais uns dias aqui em casa. Claro que tínhamos a resposta habitual de que tinha que ir para estudar, nós concordávamos!...

Beja Escola Superior Agrária de Beja

PRIMEIRA FOTOGRAFIA DA MARTA EM BEJA
Beja   Escola Superior Agrária de Beja

 Após ter feito os exames das provas específicas, a Marta  conseguiu uma nota bastante boa, o que lhe deu a possibilidade de ingressar na Escola Superior Agrária de Santarém, o que não estava nos seus planos conforme ela refere no seu diário.  Então, ficou muito aborrecida por ter ficado em Santarém; nós tentámos convencê-la ficar em Santarém , visto que era uma Escola com maior prestígio e que ficava muito mais perto de Massamá.
 Ainda foi com a Aires a Santarém  matricular-se e arranjar quarto. Mas no mesmo dia em que se matriculou, preencheu um documento de permuta, para ir para a Escola Agrária de Beja. Apesar de estar contente por ter entrado na Escola Superior, andava muito decepcionada, pois tinha tudo "programado" para ir para Beja, onde já se encontrava o Paulo e a colocação em Santarém vinha obrigá-la a mudar os planos.
Durante estes dias, tentámos convencê-la, mas deixámos que fosse ela a decidir.
Passado alguns dias, veio a autorização do Ministério da Educação para que se fosse matricular em Beja. A Marta ficou felicíssima. Logo no dia seguinte, foi no primeiro autocarro para Beja, afim de fazer a matrícula e procurar alojamento.
Era o sonho da Marta que começava a concretizar-se. Escreve no seu diário:
Hoje é dia 21.10.92
Estou muito longe de onde te costumo escrever, estou em Beja.
Pois é, consegui o que queria, entrar em Beja.
Estou numa casa só para estudantes, somos muitas raparigas, a Aires também cá está.
Ainda não fui às aulas porque tenho fugido da praxe, mas amanhã é o dia do caloiro, há um desfile e à noite há festa na discoteca.
Eu gosto do quarto, embora seja um pouco caro e muito frio, estou a pagar (20.000$00)
O Paulo   também cá está a tirar a carta.
Eu estou a gostar de Beja, é uma cidade simpática.
A escola é um pouco longe, mas com companhia, faz-se.
Bem agora vou fazer o meu jantar. Amanhã ou depois, conto-te como foi ser caloira.
Tchau!
Sinto-me um pouco sózinha, mas não é assim tão mau,
 dias melhores, dias piores ...
Escola Superior Agrária de Beja
Curso TIAA
Tuma 10            1º ano   nº57/92


No fim de semana seguinte, fomos procurar quarto. Procurei a casa da mãe da Lúcia, onde estavam hospedadas jovens estudantes, mas a Marta não lhe agradou ficar ali, pois teria que partilhar o quarto com outra colega e ela queria um quarto só para ela. Vimos mais uma casa ou duas, mas as senhorias queriam alugar um quarto para duas raparigas, o que desagradava profundamente à Marta. A Marta ficou no quarto de uma amiga durante uma noite e no dia seguinte, já sozinha com a Aires calcorrearam Beja de ponta a ponta, para encontrarem um quarto individual.
Finalmente alugaram um "quarto"  para cada uma, na Rua Tenente Sanches de Miranda, nº11,em Beja.
Dia 12 de Outubro de 1992 chegou o pedido de transferência de Santarém para Beja.
A Marta escreve na agenda, sublinhado com dois traços:  Fiquei em Beja.
No dia 16 de Outubro passa a 1ª noite no quarto da casa da D. Helena, na Rua Tenente Sanches de Miranda, nº11- Beja
Dia 18 de Dezembro 1992, último dia de aulas do 1º Período.
Natal de 1992
Escreve na Agenda:
O meu Natal foi como todos os outros, só com a diferença de ter tido menos prendas, porque a minha vida mudou bastante, desde o momento em que fui para Beja, é muita despesa, eu gasto                                                                 mais de 40 contos por mês.
Se este 1º ano não tirar boas notas volto para Lisboa e entro numa particular, como o Ismag, onde posso tirar o curso e nem gasto nem metade do dinheiro que gasto neste momento.
Mas eu sei que não sou parva e vou esforçar-me mais para ver se consigo, pois um curso tirado numa faculdade estatal ou na particular é muito diferente, a nível de futuro emprego.
Mas eu estes primeiros meses portei-me muito mal, mas agora de 1 de Janeiro, ano novo, vida nova.

O senhorio adaptara umas arrecadações no fundo do quintal a "quartos". O "quarto" era muito pequeno, muito frio e húmido. O tecto era de telha vã, onde colocaram uma placa de contraplacado para tapar as telhas, mas o vento, a chuva e o frio entravam através do forro. A cama estava encostada à parede húmida e uma alcatifa no chão procurava tapar o cimento que havia por baixo, tinha uma janela velha e uma porta com frestas da largura de dois dedos, por onde entravam o vento e a chuva.  A casa de banho, a cozinha, uma pequena sala de convívio e outros quartos para duas raparigas ficavam na casa principal, no outro extremo do pátio. A Marta estava muito contente por ter encontrado finalmente um quarto só para ela!
No fim de semana, fomos levar-lhe tudo o que ela precisava para ali viver. Roupas da cama, toalhas, cobertores, televisão, louças, livros e alguns objectos pessoais. Arrumámo-lhe o "quarto" o melhor que pudemos, procurámos torná-lo confortável, mas na verdade, eu saí dali muito angustiada, pois  não tinha quaisquer condições de habitabilidade. Eu conhecia o clima frio e agreste do Baixo Alentejo e a cidade de Beja é conhecida pelos Invernos muito rigorosos. Eu estava preocupada. Sabia que a Marta se tinha precipitado com o aluguer daquele "quarto" e conhecia a Marta para saber que ela se iria sujeitar àquelas condições, pois não queria partilhar o quarto com mais ninguém.
Cheguei a Massamá, comecei a fazer um cortinado feito com um cobertor para pôr na porta e um outro cortinado para a janela, talvez os cortinados atenuassem um pouco o frio intenso das noites gélidas!... O Inverno de 1992 foi um dos mais rigorosos dos últimos anos, chuvas torrenciais inundaram o "quarto" por mais  que uma vez e este continuava frio, desconfortável e a cheirar a mofo. Quando me deitava no meu quarto quente e confortável da nossa casa de Massamá, pensava nas condições em que a Marta se encontrava e isso preocupava-me  imenso.
No quintal da casa, havia  quatro ou cinco quartos, todos iguais ao da Marta, dentro da casa, havia mais três ou quatro quartos, logo estavam ali alojadas doze ou treze  raparigas. A casa de banho era só uma e na cozinha também não havia muito espaço. Tudo isto, fez com que eu não me entusiasmasse nada e a minha expressão de desagrado foi notada pela Marta. Ela sabia que eu tinha razão em estar preocupada, pois a casa não tinha condições para tanta gente habitar ali e faltava o ambiente calmo e confortável necessário ao estudo.
 Eu temia que as condições do quarto lhe trouxessem problemas de saúde e ao mesmo tempo receava que os estudos fossem prejudicados com toda esta agitação.
Penso que a Marta também se apercebeu das poucas condições da casa, mas ao mesmo tempo não queria deixar aquela casa onde estava à sua vontade e onde não havia ninguém a controlá-las e a aborrecê-las com exigências.
A Marta depressa fez amizade com as restantes raparigas da casa. Sentia-se bem com o convívio alegre e descontraído que ali viviam e para me "animar" dizia-me que o quarto estava mais confortável, depois da colocação dos cortinados e que adorava estar ali, eu sentia que ela tinha que ser responsável pelos seus actos e pela sua vida. A primeira carta que recebemos da Marta, não me tranquilizou.

"Queridos Pais
Espero que esteja tudo bem por aí.
Por cá está tudo bem.
Ando é um pouco cansada porque a escola é muito longe, mas é uma questão de hábito.
Na Segunda-feira aconteceu-me uma coisa engraçada, enganei-me na sala e fui para outra turma. No horário estava laboratório 1 ou sala 2 , eu vi gente na sala 2 e como não sabia a minha turma, entrei, assinei a folha de presenças e assisti durante 2h , de repente eu percebi que não era a discilplina certa, mas como eu ainda não sei bem o que cada discilplina consta, não me apercebi. A minha sorte é que não tive aula, senão tinha falta. Disse à professora e saí, todos se riram e eu e a Aires saímos muito envergonhadas.
A Aires está neste momento a dormir, porque anda muito cansada.
São precisamente 6h45m.
Tenho gasto muito dinheiro esta semana.
Eu estou a gostar das aulas, mas são muito diferentes do liceu, muita gente, os professores falam muito depressa, não consigo tirar apontamentos nenhuns.
Ah! Onde eu estou a gastar o dinheiro é nas sebentas que os professores mandam comprar.
Estive agora mesmo a escrever à Ritinha a contar todas as novidades.
Esta semana o tempo está melhor, não está tanto frio, tenho andado com a camisola verde que vocês me compraram que é muito quentinha.
Tenho comido muito bem, e muitos chocolates e rebuçados quando estou a passar as aulas. Eu estou a achar o curso muito difícil! Mas o tempo irá dizer como irá terminar.
Já conheci pessoas da Escola muito simpáticas, conheci uma rapariga de Setúbal (Quinta do Anjo) chama-se Bia é muito simpática, e já disse se eu precisasse de alguma coisa da escola do 1º ano ela me ajudava, ela está no 2º ano (com disciplinas do 1º é claro, como todos!).
Bem agora vou terminar, pois vou acordar a Aires para irmos fazer o jantar, para nos deitarmos cedo, porque amanhã temos aulas às 8 h.
Há alturas em que me apetece estar aí em casa com vocês, mas logo me lembro que eu estou a tirar o meu curso para um dia ser Engª. Marta Varela Baleiro.
Mas tenho saudades da cara séria do pai e dos repentes da mãe.
Quando receberem a carta, eu devo ter falado com vocês ao telefone.
Um beijinho, (Um não, muitos beijinhos)
Desta vossa filha que vos ama muito

20 de Outubro de 1992
Marta Varela Baleiro

Nos fins-de-semana, tínhamos a visita da Marta. Vinha de autocarro e como ela sempre enjoou nas viagens, chegava, muitas vezes,  agoniada e desejando chegar a nossa casa para descansar.

No dia 16 de Novembro de 1992, a Marta escrevia-nos e contava-nos em pormenor o seu dia a dia :

Queridos Paizinhos:
Está tudo bem?
Por cá está tudo bem.
Hoje é Terça-Feira, vim agora das aulas, estive a ter 2 h de Biologia, sempre a escrever.
Hoje almocei na escola, foi lulas com arroz, sopa c/ agrião, sumo de laranja e fruta (pêra) , o almoço não é mau, pelo menos o de hoje não foi mau.
Já me ando a sentir melhor, isto é, ando menos cansada, embora ontem tenha havido uma festa lá em casa, pois a Andreia, a rapariga do Porto, fez anos e fizesmos-lhe uma festa, foram muitos colegas lá da Escola, houve bolos, champanhe, foi muito engraçado.
Este fim-de-semana em princípio fico cá, porque tenho já que começar a estudar a sério, já tenho frequências marcadas para menos de um mês, logo a disciplina mais difícil Química-Física dia 12 de Dezembro, depois é Química Orgânica dia 9 de Janeiro e se não são estas fraquências são outras que calham ao Sábado.
A Aires fica cá este fim-de-semana,  por isso, ficamos as duas a estudar.
A Bia, aquela rapariga da Quinta do Anjo, ficou de me emprestar livros para eu tirar fotocópias no próximo fim-de-semana.
Ainda não paguei o quarto porque ainda não vi os senhores até hoje.
Ontem fui ao banco buscar o cartão Multibanco é muito colorido, e já o experimentei, Está bom!
Hoje quando vim das aulas, fiz uma estravagância, fui beber uma Coca-cola com um bolo, com a Aires, soube-nos bem, já há muito tempo que não o fazíamos.
Neste momento, estamos no meu quarto, eu estou a escrever e ela está a passar uma aula.
Daqui a pouco vamos tratar do jantar.
Um colega nosso da Paiã, o Nuno Lavadinho está muito doente com febre muito alta, teve de ir ao hospital e tudo, já levou 2 ou 3 injecções de "aspirina?" para baixar a febre e lá no hospital teve de levar uma injecção de penicilina.
E os colegas dele de quarto iam-lhe dar sopa de pacote e eu ofereci-lhe sopa da minha, porque era só o que  ele podia comer, pois doía-lhe muito a garganta, hoje acho que já está melhor.
Já mandei fazer a chave do meu quarto.
Agora sinto-me muito melhor no meu quarto, pois limpei-o todo, ficou muito bonito e com os cortinados, todas dizem que o meu quarto está muito bonito.
O Verão de S. Martinho continua cá em Beja, está um tempo muito agradável, embora à noite como é normal arrefeça um pouco.
Bem, agora vou passar uma aula e fazer um relatório, para ir jantar.
Um beijinho ( + de 1, muitos beijinhos) da vossa filha que vos ama muito

Eu telefono na quinta ou sexta-feira!

    Muitos Beijinhos                                  Recebi agora mesmo  uma carta                                                                                                                                                          da Rita diz que está tudo bem.
                                                                                                                                                    Neste momento está na Escócia.

Marta Varela Baleiro
No mesmo envelope vinha uma segunda carta, pois a primeira ainda não tinha sido enviada.
                                                                                  (2)

Queridos Pais:
Como está tudo por aí?
Por cá está tudo a correr bem.
Hoje é Domingo e ainda estou na cama a estudar um pouco porque durante a semana não consigo estudar nada.
O Tempo tem estado muito bom mas hoje acordei com o barulho da chuva, o senhor da casa esteve cá ontem a arranjar o telhado, parece que adivinhava que hoje ia chover, mas não está frio nenhum.
Estou a escrever hoje para pôr no correio amanhã, pois já tenho a outra carta escrita há muito tempo.
Agradeço imenso a encomenda, gostei muito.
Estive agora a ler a carta que escrevi na terça-feira e já paguei o quarto e o meu colega já está melhor, mas esteve bem atrapalhado.
No próximo fim-de-semana, em princípio vou aí, porque nas outras seguintes tenho que estudar e se eu andar de um lado para o outro não consigo estudar nada.
Como eu escrevi no fim da 1ª carta, a Rita escreveu-me está boa diz que está tudo a correr bem, a semana passada foi quando foi à Escócia, eu já tenho a carta escrita, mas o mais difícil é pô-la no correio.
O Nelson ainda não veio cá, mas depois nós falamos melhor sobre isso, no próximo fim-de-semana.
Tenho tentado gastar menos dinheiro, tenho conseguido gastar um pouco menos, mas há sempre qualquer coisa para comprar.
São neste momento 12h30m e estou a começar a ficar com fome.
Olhei agora para o caderno e lembrei-me: fiz uma ficha de Química e tive Suf+, eu fiquei muito contente, porque a maioria teve suf- e suf- - , como foi o caso da Aires.
Eu e a Aires agora estamos a dar bem, ela agora anda mais calma.
Bem depois eu telefono, agora vou estudar mais um pouco.

Muitos, Muitos beijinhos
 da vossa filha que vos ama muito

Marta Varela Baleiro

Documentos das praxes / fotos da praxe
 Frequentava o Curso de Indústria Agro-Alimentares na turma ... do 1º ano.
Nunca faltava às aulas. Mesmo debaixo de chuva ou de frio intenso, levantava-se muito cedo, para estar nas aulas às 8 horas da manhã. Sentia-se bem e andava muito bem disposta.
O Paulo estava também em Beja, viam-se todos os dias e estavam  felizes.
Dia 31 de Dezembro
"Fim do Ano
Ano Novo Vida Nova, Ano Velho Vida Velha.
Tenho de tomar certas medidas na minha vida, pois já tenho idade para ser mais responsável e saber aquilo que quero e saber dos sacrifícios dos meus pais.
Espero encontrar uma casa nova para mim e para a Aires em Beja, em que não seja tanta confusão. Pois neste momento somos 11 raparigas numa casa sem muitas condições e torna-se muito desgastante para mim.
Espero que os meus pais sejam o mais feliz possível, assim como desejo que a minha irmã tenha tudo aquilo que deseja.
Espero que o meu namoro com o Paulo  continue e sejamos muito felizes.
Espero ser feliz no ano de 1993

Com todas estas mudanças na sua vida, os estudos também se ressentiram. O ambiente na casa não era o mais propício ao estudo e logo nas primeiras frequências os resultados não foram muito animadores. Não havia nenhum adulto na casa que vigiasse minimamente quem  visitava as raparigas e a meio do ano, começaram a receber muitos amigos, de tal forma que os serões eram passados a conversar e o estudo ficava para trás. A Marta era muito trabalhadora e procurava fazer todos os trabalhos que lhe eram pedidos, mas com o ambiente da casa que não era o ideal para o estudo e muitas vezes  sentia-se desmotivada, pois os professores eram muito exigentes e as  disciplinas muito trabalhosas. No primeiro ano chumbou a várias cadeiras, mas de qualquer modo transitou para o 2ºano.

A Marta a meio do ano lectivo 1992/1993, talvez em Março de 93, resolveu ir viver com o Paulo, alugaram a casa da Maria Albertina, na Rua Ferreira de Castro, nº26, 2º D. Foi uma decisão muito complicada, pois ambos assumiram a responsabilidade de uma união com  todos os inconvenientes e responsabilidades que isso iria trazer. A Marta era muito adulta, muito responsável e aceitou esta nova situação de braços abertos e com grande optimismo. Nós achávamos que ela era muito nova para ter a responsabilidade de uma união e a responsabilidade de governar uma casa. Sabíamos que a mensalidade que lhe mandávamos não poderia ser muito aumentada e tínhamos receio que "as coisas" entre eles, não corressem bem. O Paulo teve alguns empregos e esforçou-se para que nada lhes faltasse, mas eu sei que algumas vezes a Marta se viu um pouco aflita para que o dinheiro chegasse até ao fim do mês. Para eles, o que importava era estarem juntos e  viverem o seu  grande amor, isso foi amplamente conseguido durante uns tempos, e eles foram muito felizes. A Marta foi feliz durante esses meses de vida em comum.


O ano de 1994 começara bem. Tudo corria dentro da normalidade.
                   No dia 2 de Janeiro de 94, a Marta escreve na sua agenda:
"2ºdia do ano de 94 com muito frio
Passei a Passagem do Ano em Tróia com o Paulo, a Patrícia e o Fernando, o namorado.
Passámos a passagem do ano muito bem, principalmente porque eu passei com a pessoa que amo e que quero sempre ao pé de mim.
No dia 1 de Janeiro 94, fomos almoçar ao Avelino, no Carvalhal;
comemos muito bem, comi choco frito que nunca tinha comido, e comi ameixão?  com caril que também estava óptimo.
No dia 1 à noite jogámos ao Pictionary Picante depois de um jantar feito por mim, pois eu trouxe umas coisas para " nos alimentarmos".
No dia 2 ou seja hoje, estou neste momento na praia com o Paulo, pois estamos à pesca, ainda não pescámos nada e está muito frio, eu estou gelada. Sendo o segundo dia do ano de 94, espero passar um ano mais quente que este dia."


No dia 21 de Janeiro de 1994, quando a Marta fez 20 anos, resolvi organizar uma grande festa de aniversário, para festejarmos os seus anos com toda a família. Convidei a Paula, mãe do Paulo e o marido, o Zé Maria, para que estivessem connosco e assim nos ficássemos a conhecer. Foi uma festa muito bonita. Todos estávamos muito bem dispostos e a Marta adorou aquele dia. Convivemos, brincámos e petiscámos como sempre acontece nas festas familiares. A Marta teve muitas prendas e recebeu muitos telefonemas de parabéns; estava muito feliz!...
O ano de 1994 foi pródigo em acontecimentos importantes para a felicidade da Marta.
Escreveu na Agenda:
                   "21 Jan. 94
 Fiz 20 anos, fui logo de manhã para casa da mãe do Paulo para estudar um   pouco porque o Paulo tinha de ir trabalhar. Depois a Paula chegou fomos comprar o almoço para fazer um almoço especial. O Zé Maria veio almoçar connosco, mas o Paulo não pode aparecer.
A Paula ofereceu-me uma caneta, uma camisola de lã e um soutien, tudo muito bonito, ela foi incrível comigo - não só pelas prendas mas pela companhia e atenção que teve comigo.
Depois fomos à casa dos avós do Paulo que foram muito simpáticos e ofereceram-me uma camisola de lã também muito bonita.
Ás 7.30m eu e o Paulo fomos ter com os meus pais e a Rita, fomos jantar à Churrasqueira, foi muito agradável.
Fui para casa, recebi as prendas dos meus pais e dormi, para no dia seguinte acordar cedo para preparar a festa.
A minha mãe preparou uma festa muito agradável.
A minha mãe teve imenso trabalho, fez imensa coisa, eu pedi-lhe para me fazer um bolo de anos em forma de coelho para recordar os velhos tempos.
Deram-me muitas prendas e gostei de todas, mas a minha avó Amélia deu-me uma prenda que eu nunca vou esquecer, ofereceu-me o fio de ouro dela, eu adorei não pelo fio, mas pela intenção,  ainda mais sendo o dela!"


No dia 14 de Abril a Marta escreve na sua agenda pessoal:

"Tenho uma grande novidade para dar, o Paulo  finalmente vai comprar um carro. É um comercial só de 2 lugares é um Ibiza CLX branco. Eu acho o carro muito bonito.
Ainda não nos entregaram o carro, mas estamos à espera há 15 dias, esperamos que seja para a semana.
A minha irmã vai comprar uma casa no Algarve, eu não sei muito bem como? mas os meus pais vão este fim-de-semana ao Algarve para verem a casa.
Eu e o Paulo  vamos a Lx. para irmos aos anos do Tiago no Sábado à noite e para ir jantar a casa dos avós do Paulo., para eu conhecer a tia e a prima do Paulo que estão em Inglaterra.
Bem agora vou ao médico."