MARTA

MARTA
O ADEUS PRECOCE DA MINHA ESTRELA MAIOR

segunda-feira, 7 de fevereiro de 2011

OS ANIMAIS - 3ª CLASSE 27/10/1983

  
Os animais
Eu gosto muito de animais.
O animal que eu gosto mais é do cão.
Mas a minha mãe não gosta de ter animais em casa,
 porque um dia a minha mãe teve um canário  que morreu e depois custou-lhe muito deitá-lo fora.
Há muitos animais, como por exemplo: cão, gato, égua, macaco, cavalo, hipopótamo, girafa, etc.
Estes animais todos estão no Jardim Zoológico.
 Eu gosto de todos estes animais.
O meu avô diz-me: - “Marta, quando fores grande e se quiseres um cão e quem viver contigo não gostar de animais diz-lhe: - Quem gosta de pessoas gosta de animais!”
  3ª classe      27/10/83

1º E 2º ANOS DO CICLO PREPARATÓRIO - ESCOLA PREPARATÓRIA DE MASSAMÁ

FESTA DOS 10 ANOS DA MARTA
O BOLO DE ANOS É UM COMBÓIO
Todos os inícios dos anos lectivos eram vividos com um entusiasmo enorme pela Marta. 
Ela tinha um grande prazer e uma imensa alegria quando ia comprar os livros e todo o material necessários para o ano lectivo que se iniciava. Adorava cadernos com capas do Snoopy, lápis, borrachinhas, canetas tudo aquilo que era preciso, mas tudo muito bonito, alegre e divertido.
FESTA DOS 10 ANOS DA MARTA
A Escola Preparatória de Massamá ficava ao fundo da Rua da Tascoa, muito longe da nossa casa e não havia transporte para lá, assim a Marta fazia o percurso quatro vezes por dia e alguns dias seis vezes, , o que me preocupava bastante pois era uma rua muito comprida, um pouco isolada e a subir. Às vezes chegava cansada, mas nunca se queixava, fazia-o sempre de boa vontade e adorava ir e vir conversando com as colegas em  pequenos grupos.
No 2º ano do Ciclo Preparatório, fez amizade com a Clara e tornaram-se amigas íntimas. Não podiam estar uma sem a outra e quando vinham da escola voltavam a juntar-se para falar e ouvir música. 
A Clara era a confidente e amiga que a Marta tanto necessitava, pois ela sempre gostou de "desabafar" os seus problemas, as suas tristezas e as suas alegrias e a Rita, adolescente com 14 anos,  estava a passar uma fase em que não tinha muita paciência para ela. Foram dois anos em que a Marta não precisou de fazer amizade com mais nenhuma colega, pois elas entendiam-se  muito bem. 





3ª CLASSE – COLÉGIO JÚLIO DINIS - QUELUZ



TURMA DA 3ª CLASSE
MARTA JUNTO À PROFESSORA À DIREITA
O ano lectivo decorreu sem incidentes e a Marta transitou para a 3ª classe, com a mesma professora. Aprendeu com muita facilidade, não tinha dificuldades de maior em qualquer disciplina, mas os erros ortográficos eram  o maior problema da Marta. Muitas vezes, quando eu a ajudava a fazer os trabalhos, tínhamos "zangas" pois eu achava que a Marta devia treinar mais a escrita, pois os erros ortográficos deixavam-me com “os cabelos em pé”!

MARTA 3º CLASSE
Os directores do colégio gostavam imenso da Rita e da Marta. Eram umas crianças muito educadas, muito respeitadoras e nunca davam uma má resposta quer a professores quer a empregados. Faziam amigos com facilidade e davam-se bem com toda a gente. A Marta andava muito feliz, pois adorava andar na mesma escola da irmã. À tarde, por volta das seis horas, o pai ia buscá-las e trazia-as para casa, eu vinha de autocarro muito mais tarde.
Foi um período das nossas vidas bastante bom, onde havia muita harmonia e boa disposição, pois  eu estava a exercer uma profissão que me deixava satisfeita e as miúdas apercebiam-se que eu andava feliz por poder trabalhar fora de casa.






4º CLASSE – ESCOLA PRIMÁRIA DE MASSAMÁ

A Marta ia transitar para a 4ª classe e a Rita ia para o Liceu de Queluz para o 7ºano. O mês de Outubro estava no início e eu consegui matricular a Marta na Escola Primária de Massamá, na turma da D. Nazaré, antiga professora da Rita, de quem a Marta sempre tinha gostado muito.
A Marta teve pena de deixar o colégio onde tinha muitos amigos, mas percebeu que se eu estava em casa não se justificava a despesa num colégio particular.
A Rita iniciou o 7º ano no Liceu de Queluz e manteve-se aí até ao 12º ano.
A 4ª Classe da Marta decorreu sem incidentes. Fez novos amigos e gostava sobretudo muito da professora. Continuou muito trabalhadora e aplicada e no final do ano transitou para a Escola Preparatória de Massamá. 



2ª CLASSE – COLÉGIO JÚLIO DINIS - QUELUZ


MARTA 2ª CLASSE
No ano seguinte, como comecei a trabalhar, decidimos que a Rita e a Marta iriam para um colégio, onde pudessem ficar todo o dia.
Escolhemos o Colégio Júlio Dinis, em Queluz, pois tinha Primária e 1º ciclo da Telescola.
TURMA DA 2ª CLASSE
MARTA É A 4ª A PARTIR DA DIREITA DA FILA DE CIMA
A Marta foi para a 2ª classe, com uma professora muito competente, muito meiga e simpática, a D. Isabel, por quem a Marta tinha uma enorme admiração e estima.


INTRODUÇÃO PARA O LIVRO /BLOGUE

Desde que a Marta partiu, que a ideia de escrever sobre a sua vida, não me tem abandonado.
O receio de não ter a capacidade suficiente para transmitir, tudo aquilo que tenho para contar, a quem me poderá vir a ler, tem-me inibido levando-me a adiar e a atrasar  o projecto. 
MARTA 5 MESES
Às vezes, surgia-me a dúvida, de que o conteúdo deste livro não interessasse a quem o pudesse vir a ler. Noutras alturas, pensava: " - Talvez interesse àqueles que conviveram com ela, que a amaram, que conheceram o seu carácter, a sua sensibilidade, a sua disponibilidade para ajudar, a sua meiguice... " animada por este pensamento, voltava a escrever mais umas linhas.
O principal objectivo deste blogue será dar a ler aos que a conheceram ou àqueles que só agora tomaram conhecimento da sua breve passagem por este nosso Planeta Terra, as vivências da Marta, a sua sensibilidade, os seus anseios, as suas paixões, a sua grande vontade de viver e de vencer os obstáculos que por vezes encontrou pelo caminho.
Assim, reconhecendo a inabilidade criativa para a escrita, peço aos que me lerem, que desculpem as repetições, o exagero e até mesmo as incorrecções linguísticas, pois tudo o que se segue foi escrito com o coração e a emoção.

PAI, MÃE E MARTA (5 MESES)
Quando damos à luz um filho, neste caso, quando a Marta nasceu, como mãe procurei guiá-la com uma infinita paciência, mostrar-lhe os obstáculos, acautelá-la contra tudo o que a pudesse aleijar, queimar, cortar, envenenar, asfixiar, morder ou arranhar. Constantemente, a alertava para resistir à atracção do abismo, fazia ver-lhe que a água podia trair aqueles que confiam na sua doçura ou na sua vibração mágica; quando mais tarde, se tornou numa adolescente e mais tarde numa jovem mulher estava convencida de que a tinha preparado para reagir a todos os perigos e vícios deste mundo tão tenebroso, de que eu a tinha ensinado a seguir o seu caminho na sociedade, de que tinha feito tudo para que ela estivesse atenta à vida e respeitasse todas as pessoas que ela iria encontrar no caminho ao longo da sua vida, quando eu pensava que lhe tinha transmitido tudo de melhor que havia em mim como mulher e mãe, para que ela cumprisse a missão de, por sua vez, legar todos esses conceitos aos seus filhos, quando julgava que tudo estava na "ordem estabelecida": crescer, fazer-se mulher, dar-me  netos, ( todos nós que temos filhos, desejamos) para que a nossa descendência se perpetue. Como dizia Platão: “Porque a geração é para o ser mortal, como a possibilidade de se perpetuar e imortalizar”.  Subitamente, da maneira mais brutal, fui confrontada com a dura realidade de que nem sempre a "ordem da vida" é como nós a sonhamos ou queremos. Nada se cumpriu! Tudo está numa desordem!  Aquela filha que eu tanto protegi, franqueou sozinha as portas da morte, como se a minha constante vigilância, se tivesse rompido de súbito, abrindo uma fenda por onde passou a morte.  
A morte da Marta é a morte que não deveria ter acontecido, inaceitável!...
MARTA NO DIA EM QUE FEZ 1 ANO
Alguém disse: "Os mortos são deste mundo durante tanto tempo, quanto os guardamos na nossa memória ", sinto que esse pensamento se ajusta a todos aqueles que como eu, perderam uma filha ou um filho.
Uma filha que partiu para a eternidade, mas que vive no meu pensamento todos os momentos do dia, como se eu a trouxesse de novo dentro de mim, no aconchego da minha barriga protectora, mas desta vez, para não mais a deixar vir ao mundo. Quando perdemos um filho, ele torna-se no nosso "fantasma interior”, que nos acompanha, a quem pedimos conselhos, a quem pedimos "força" nos momentos de fraqueza e aflição, com quem "dialogamos" quando a saudade é insuportável.
A princípio, pensava que só a mim me tinha acontecido tão grande fatalidade, estava "insensível" ao sofrimento doutras mães e doutros pais; pois se nem sequer eu conseguia lidar com o meu sofrimento, como podia eu lidar com o sofrimento de outros?
Depois, lentamente, muito lentamente, apercebi-me que não estava sozinha neste “mar enraivecido”, quantas mães e quantos pais espalhados pelo mundo, vivem o mesmo drama, a quem lhes aconteceu a mesma tragédia.
Assim, comecei a pensar na melhor maneira de viver com esta brutal realidade. Como e onde procurar a melhor forma para eu poder suportar esta tão grande dor, sem perder as faculdades mentais e psíquicas, as quais muitas vezes sentia oscilar e  fraquejar?
"- Tudo está reduzido a Nada!" - era o meu pensamento mais constante!
Procurei na escrita de um diário, um pouco do equilíbrio psíquico que necessitava. Durante anos, todos os dias (deitada na cama, antes de ir dormir) escrevi "uma carta" à Marta, onde lhe contava o meu dia, as minhas tristezas, as minhas alegrias, o apoio que encontrei na família, nos meus amigos, nos meus alunos; nessas “cartas” procurei dar-lhe a saber que as misérias como a fome, a guerra, a maldade dos Homens e as grandes injustiças sociais, os grandes cataclismos naturais continuavam a existir neste Mundo e que nada se modificou desde o dia da sua partida, o dia 4 de Fevereiro de 1995. No último dia do Século XX, escrevi-lhe uma “carta” a contar-lhe que íamos entrar no Século XXI. O ano 2000 estava a chegar, mas tudo, tudo, mesmo tudo estava como no dia em que a Marta partiu…
Ainda pensei publicar os meus diários, mas estão demasiado íntimos e o objectivo desta fotobiografia é dar a conhecer a Marta e não centrar-me no meu sofrimento, devido à sua partida.
Resolvi dividir este trabalho, em várias partes e abordar nele os assuntos que sempre interessaram à Marta, pois uma das suas características era prestar uma enorme atenção às suas origens, ao modo como eu e o pai nos conhecemos, falar dos amigos, em suma, ela adorava saber pormenores dos pequenos nadas que formam as nossas vidas. Era uma grande conversadora e sempre adorou partilhar com todos nós, os principais acontecimentos da sua vida.
Será que conseguirei através destas páginas dar uma ideia de quem foi esta jovem, a minha querida filha Marta? Conseguirei falar dela sem a trair? Conseguirei fazer surgir no espírito e no coração dos que me vão ler, a imagem de uma jovem que tenha algumas semelhanças com a Marta? Penso que  posso esperar isso, pois a Marta era uma rapariga do seu tempo. Eu ficarei muito feliz, se souber que muitos pais reconhecem nesta jovem de 21 anos, os traços dos seus filhos, que soube aproveitar tudo de bom, que a vida lhe ofereceu.
Desde a sua morte que a própria essência da minha vida mudou e as reacções da minha sensibilidade para com este Mundo, que me rodeia e onde sou “obrigada” a viver, já não são as mesmas.
A provação que tenho passado com a morte da Marta é um calvário. A dor não aparece de uma só vez, mas em vagas sucessivas de dor, que se vão juntando, se vão acumulando e que aumentam o grande aperto que sinto no meu coração.