MARTA

MARTA
O ADEUS PRECOCE DA MINHA ESTRELA MAIOR

sábado, 5 de fevereiro de 2011

RECADOS À MARTA

Marco Aurélio Monteiro deixou um novo comentário na sua mensagem "A MINHA MARTA": 

Estou a escrever porque senti necessidade de o fazer,não o fiz antes porque não sabia da existência deste blogue dedicado à Marta,eu só soube porque acabo de vir da Paiã do almoço dos antigos alunos e foi o David Simões ( o americano) que era da turma da Marta que me falou do blogue.
Ainda para mais, fez ontem anos que a Marta nos deixou.
Conheci a Marta muito bem, entrámos para a Paiã no mesmo ano, ela para industrias alimentares e eu para agro-pecuaria,recordo-me dela usar uns xailes pelos ombros, parece-me que todos os dias levava um diferente.
Cheguei a sair à noite com a Marta e com a sua irmã.
Fomos de viagem de finalistas a Palma de Maiorca, divertimo-nos que nem uns loucos,pela ilha nos jipes que nós alugámos.
Eu sempre achei a Marta muito madura e responsavel para a idade,comparada comigo que era um autêntico gaiato.
Soube da sua morte pela Olga que tinha sido da turma da Marta na Paiã e estudava em Castelo Branco juntamente comigo.
Não fui ao seu funeral, mas recebi uma carta da mãe a informar-me.
Não fui ao funeral por cobardia,não queria acreditar que uma rapariga da minha idade tinha partido tão permaturamente.
Não fui porque não tive força para enfrentar os Pais, a Irmã, a familia.
Não fui porque queria guardar só recordações boas.
Não fui porque não tive coragem de enfrentar a dura realidade que é a morte.
Hoje, que sou pai de um menino faz amanhã 20 meses,nem quero pensar no sofrimento que levam dentro de si,os Pais e Irmã.
Agora passados estes anos todos só quero deixar um grande beijo para a Mãe,Pai e Irmã e que continuem a ter muita força.
Durante estes anos todos, recordo-me muitas vezes da Marta e do que lhe sucedeu.
Que a sua alma esteja em bom lugar e que descanse em paz.
Marco Aurélio 



A  minha resposta:
Que emoção!! ler as suas palavras foi um enorme consolo. Perceber a importância que a Marta teve na vida das pessoas que com ela conviveram foi esse o objectivo que me levou a fazer este blog. 
Ao ler as suas palavras recordei a Marta, "coquette" que adorava andar bem vestida e com adereços que a tornavam diferente da maioria das raparigas, sim ela adorava lenços, écharpes, xailes... roupas bonitas que a realçavam a sua feminilidade, a sua beleza exótica.
Tenho ideias de escrever sobre a viagem de finalista que ela adorou e recordava com muito entusiasmo... ainda não cheguei a essa época... desde a publicação do blog que tem sindo um "deslumbramento" para mim, pois passados 16 anos, nunca pensei que a Marta estivesses ainda nos pensamentos dos amigos.
Vou mandar-lhe um mail. Lembro-me de a Marta referir o seu nome, Marco Aurélio...
Obrigada pelo seu testemunho tão sincero... 

RECADO DA IRMÃ LINA PARA MIM

Querida Zuzu! Desculpa só agora responder ao teu mail. É que tenho andado mal dos olhos e fiz uma pausa de vários dias na net e na comunicação social, devido à dificuldade em ler, escrever e fixar o écran do computador. Aproveitei para meditar, rezar e ler a partir de dentro, com os olhos da fé e do coração. Agarrar o que nos é possível, é melhor estatégia do que lutar por aquilo que já foi de certa maneira ,mas agora não é do mesmo modo.
Penso que esta estratégia tb pode ser boa para si amiga. Aproveite o que Deus lhe continua a oferecer: a sua própria vida, a da Rita, do marido, dos seus pais e amigos, etc, etc. Até porque se nos fixamos no passado esbarramos, naturalmente, no presente. E este é que é preciso cuidar, acarinhar,acolher e nada perder. O que não quer dizer que se esqueça o passado e que não tenha sido maravilhoso. 
Não perca as oportunidades encantadoras de vida que o presente lhe oferece, consciente de que,  por muitas saudades que se sinta, o passado já não volta. Vamos agarrar gozosamente o presente para construir um futuro feliz, tanto quanto de nós depende, como diz São Paulo.
VAMOS ZUZU, DAR A VOLTA POR CIMA, PARA SEU PRÓPRIO BEM E O BEM DE TODOS QUANTOS AMA E QUE A QUEREM VER FELIZ, PORQUE A AMAM TB, INCLUINDO A SUA QUERIDA MARTA.
E se não consegue sózinha, porque não pedir ajuda a quem está preparada para nos acordar, sempre que andamos a dormir acordados e sem consciência disso? Ajude-se a si própria, não mergulhandoexclusivamente no passado. 
Sabe que lhe desejo todo o bem e a aprecio muito como mulher, esposa, mãe e cidadã com grande  coração e potencialidades artísticas, associando na sua pessoa bondade e beleza. Que mais pode desejar, amiga?! Medite e dê graças, porque tudo isto é dom de Deus Amor.

Aqui vão os sites dos blogues onde publico: 
www.freespirit-sjorge.blogspot.com   e www.dialogoaberto.blogspot.com
 
Bjs de muita estima, esperando ter-lhe comunicado energia positiva e muita esperança em dias melhores, se acreditar em si, nos outros e em Deus que a ama sem medida, como revelou em Jesus Cristo.
Se tiver tempo vá à minha página do face, ok?

A minha resposta:
Minha querida Irmã Lina, obrigada pelas suas palavras, que revelam que está preocupada comigo... mas eu estou bem!... 
Estes textos foram escritos há muito, logo que a Marta me deixou, e só agora decidi colocá-los neste meio de comunicação extraordinário que é a Net. 
Estes textos foram escritos com o objectivo de publicá-los em livro, mas todas as contrariedades que me têm acontecido, obrigaram-me a adiar esse projecto. Agora, sem saber bem porquê, decidi fazer este blog, para dar a conhecer a Marta a quem não teve o priviliégio de a ter conhecido e também talvez para ajudar pais em luto, que como eu, questionam a razão de ter nos "vindo" parar em cima de nós este enorme drama, que é perder um filho. 
Penso que já tinha dito estas palavras a outra pessoa, mas nunca é de mais repeti-las para dar a saber a quem me lê, que não vivo "obcecada" pela morte, que continuei a viver e a fazer felizes quem me rodeia, mas que tenho umas saudades enormes desta filha, com características fantásticas, e que eu queria partilhar com amigos, como a irmã Lina.
zuzu


AS FÉRIAS NA COSTA DA CAPARICA

 No mês de Julho de 1974 foram as primeiras férias da Marta, na Costa da Caparica.

A Marta estava com cinco meses e meio era uma bébé muito saudável, muito bem disposta e quando descobriu a praia, adorava a água do mar.

Alugámos uma  casa no Bairro dos Pescadores, muito perto da praia.
 A Rita andava muito satisfeita, pois eram as primeiras férias passadas com a sua irmãzinha.
As minhas primas,  Guida e  Lena jovens adolescentes ( 15 e 12 anos), vieram  passar as férias connosco e brincavam muito com elas. Levavam-nas a passear, à tarde levavam a Marta na cadeirinha e a Rita pela mão, a passear pelas ruas da Costa da Caparica; na praia, davam-me uma grande ajuda, pois tomavam conta da Rita e da Marta.
O Zé não estava ainda de férias e por isso, ia para Lisboa e voltava à tarde; muitos dias, ele ia ter connosco à praia, onde ficavamos até ao Pôr do Sol, pois o tempo, naquele mês de Julho, estava formidável.
Os meus pais vinham visitar-nos todos os fins-de-semana e a avó Amélia ficava connosco até a meio da semana.
A casa tinha dois pisos, era muito pequena, com poucas condições e muito quente; comíamos sempre cá fora no pátio, pois o calor dentro da casa era insuportável.
No mês de Agosto desse mesmo ano, eu, o Zé e os meus tios Jacinto e Maria Helena (pais da Guida e da Lena) fizemos um passeio, de cerca de 15 dias, ao Norte do país. 
A Marta e a Rita ficaram em Estremoz entregues ao cuidado da Guida, da Lena e da Francisca, na altura a trabalhar em casa dos meus tios.
Tanto a Rita como a Marta com 6 meses, se portaram muito bem, e a partir desse Verão a Guida e a Lena ficaram a adorá-las.

AS FESTAS DE ANOS

As festas de anos em casa dos amigos eram outras das grandes distracções da Marta. Muitas vezes era convidada para assistir aos anos de amiguinhos que frequentavam a Escola ou que moravam no nosso Bairro. Sempre foi uma criança muito sociável, mas era um pouco tímida, quando entrava numa casa que ela não conhecia bem, e por isso  mostrava muito pouco à vontade. Ao fim da tarde, quando a íamos buscar, já estava muito entusiasmada com a festa e sentia-se  bastante à vontade.
O Paulo, a Sandra, a Nanny, a Vera e o João Pedro eram os amigos mais procurados para as brincadeiras, como todos moravam no mesmo prédio, conheciam-se todos muito bem e entre as crianças cimentou-se uma amizade que ainda hoje se mantém.
A Marta tinha três anos, quando a Rita foi para a escola primária. A Marta nunca se habituou à ideia de ficar sozinha e como  não gostava de estar sozinha em casa,  mal a Rita saia para a escola, ela procurava logo ir brincar para casa  da Vina ou da Conceição Teixeira. Levava tardes inteiras a brincar no quarto da Sandra, com os brinquedos, com as bonecas e muitas vezes, sentava-se junto da Vina, com quem mantinha grandes conversas e ao mesmo tempo costuravam "vestidos" para as bonecas da Marta.
A Marta adorava estas duas amigas, mães dos seus amiguinhos, e com elas estabeleceu laços afectivos muito estreitos.
A Marta mantinha grandes conversas com a Conceição, pois esta, com o seu feitio meigo, calmo e paciente conseguia estabelecer uma relação afectiva muito boa com a Marta.
Como estávamos dentro do mesmo prédio, a Marta ia e vinha de umas casas para as outras e sentia-se muito bem naquele ambiente. Eu também ficava bastante tranquila, pois sabia-a bem e que nada lhe poderia acontecer.

AS BRINCADEIRAS NO PARQUE INFANTIL

Alguns anos depois do 25 de Abril de 1974, foi inaugurado um Parque Infantil muito perto da nossa casa. O Parque Infantil estava muito bem arranjado e equipado, com  baloiços, escorregas e muitas outras  diversões que eram muito bonitos, pintados com cores bastante coloridas e havia um avião, oferecido pela Força Aérea, muito procurado para grandes brincadeiras. A Marta e a Rita aproveitaram bastante este espaço, todas as tardes e muitas vezes pela manhã íamos para o parque, onde elas brincavam enquanto eu lia vigiando por perto. Havia muitos canteiros de flores e eucaliptos de grande porte existentes ali há muitos anos; o parque era muito procurado pelas crianças do Bairro e proporcionou à Rita e à Marta grandes tardes de brincadeira, de boa disposição e de convívio com muitos meninos e meninas.
Muitos Domingos de manhã eram passados no Parque Infantil de Monsanto, enquanto eu e o Zé líamos o jornal, sentados na esplanada, as miúdas brincavam divertidíssimas pelo Parque. Mais tarde, comprámos-lhes patins e o entusiasmo em praticar patinagem no ring era enorme. Saíam sempre dali, muito cansadas mas muito bem dispostas. Às vezes, convidavam uma amiga para lhes fazer companhia e outras vezes, marcávamos encontro com o tio António Manuel, que levava o Angelo e a Ana Catarina,  com quem brincavam toda a manhã.
Sempre se deram muito bem com os primos, O Angelo da idade da Rita e a Ana Catarina com cerca de 2 ou 3 anos. Os meus cunhados visitavam-nos muito e por isso havia sempre grandes lanches e brincadeiras divertidas com os miúdos. 
Nas festas de anos, eles estavam sempre presentes e quando iamos a Amareleja, passar fins-de-semana ou as férias, passavam grandes temporadas todos juntos Sempre se deram muito bem, brincavam sempre muito uns com os outros e divertiam-se muito na praia, nos passeios que dávamos juntos, cimentando uma amizade que perdura até hoje.

OS CONTRATEMPOS ORIGINADOS PELA ESPONDILOSLISTESE

Depois de ter conhecimento da doença, eu pensava  muitas vezes que esta poderia ter tido origem naquela queda da cave,  quando a Marta tinha cerca de quatro anos de idade. 
Quando interpelava os médicos sobre esta minha dúvida, nenhum me respondia concretamente. A  partir da descoberta da doença, a  Marta, tinha 9 anos, começou a ser  vigiada pelos médicos que a aconselharam a ter alguns cuidados, como não dar mergulhos na água do mar ou piscinas, não praticar exercício físico, não andar a cavalo, ter uma postura correcta, entre outras recomendações. 
 O saber que tinha esta doença criou na Marta algum nervosismo e ansiedade, pois além de a impedir de praticar certos desportos, o médico disse-lhe, que por volta dos vinte anos teria que ser operada à coluna. Penso que essa informação do médico foi prejudicial para a Marta, ele podia ter-lho omitido, pois a Marta era uma criança muito corajosa, nunca se queixava, mas eu sei que muitas vezes ela pensava nessa operação e que isso lhe causava grande apreensão e muita angústia.
Na Escola Preparatória, nunca pôde praticar Educação Física, por isso, todos os anos, se apresentava um atestado médico comprovativo da doença. Para a Marta assistir a essas aulas era um suplício, pois ela adorava praticar desporto e tinha que estar presente na aula porque senão tinha falta. Além disso, nos 2 anos do ciclo, era obrigatório fazer testes escritos sobre as diferentes modalidades que faziam parte da disciplina de Educação Física, obrigando-a a estudar a parte teórica, quando ela sabia que nunca poderia praticar as modalidades. 
Alguns professores não compreendiam muito bem a razão do atestado médico e "davam-lhe certas indirectas" que magoavam profundamente a Marta, de tal modo que chegava a casa a chorar e bastante revoltada com a situação. 
Procurei pôr sempre as Directoras de Turma ao corrente do que se passava, mas mesmo assim, aconteceram certas situações muito penosas para a Marta. 
Os professores punham-na a apitar os jogos, a vigiar os colegas e outras coisas do género, que ela detestava fazer. Durante todo o seu percurso escolar, a Marta teve que "conviver" com este problema, que eu sempre procurei  minimizar, para  não a traumatizar, nem preocupar.
O seu desenvolvimento físico foi muito bom, bem como o seu crescimento que foi normal para a idade; tinha um  aspecto saudável e carregava a mochila cheia de livros,  sem um queixume, na longa distancia que ia da escola à nossa casa e vice-versa.
 Quando a Marta ia à consulta de um novo médico e eu dizia ao médico que ela sofria de Espondilolistese, este olhava-me com um ar incrédulo e frisava-me bem a sua dúvida, pois o aspecto saudável da Marta nada fazia prever que ela tinha aquela doença. Quando via as radiografias concordava comigo, e alertava a Marta para ter certos cuidados.

OS FILHOS DA D. FINA

A amizade sempre foi muito cultivada e apreciada pela Marta. Desde muito pequena, que se habituou a conviver com crianças que viviam perto da nossa casa  ou  com os  filhos dos nossos amigos. Adorava ter amigos com quem podia partilhar as brincadeiras.

Começou de muito pequenina, com dois ou três anos, a  brincar no seu quarto ou na praceta, junto à nossa casa da Rua das Camélias, com os filhos da D. Fina, que fazia a limpeza em nossa casa, e que tinha seis filhos pequenos.
As duas raparigas mais velhas adoravam tomar conta da Marta e brincavam com ela tardes inteiras. Eu depositava muita confiança na Paula com sete anos e na Bela com seis anos pois  elas estavam muito habituadas a cuidar e a tratar dos irmãos mais novos; elas tinham um cuidado muito especial para com  a Marta e por isso eu ficava descansada enquanto ela brincava  com elas.
A Marta adorava também a brincadeira e passava os dias a brincar com as bonecas ou a andar no triciclo, no jardim das nossas traseiras,. A todo o momento, eu espreitava da varanda, para ver se tudo corria bem. Juntavam-se mais crianças dos prédios próximos, pois  como a Marta era muito sociável ela gostava de emprestar todos os seus brinquedos  e ela levava para a rua, todos os brinquedos que ela queria, assim todos participavam nas brincadeiras.
Muito raramente vinha para casa a chorar ou zangada com alguma criança, pois todos se davam muito bem  e  todos podiam brincar com os seus brinquedos, com a Nancy, com a Barbie ou com a Tucha, bonecas, que naquela época, meados dos anos 70,  nem todos tinham possibilidades de ter.
Aconteceu nessa altura um episódio que ainda hoje me deixa bastante angustiada quando o recordo.
A  Paula e a Bela moravam na cave do prédio nas nossas traseiras. As janelas ficavam ao nível da rua, e como eram muitos filhos, passavam muito tempo a brincar junto das janelas, que estavam quase sempre abertas, principalmente a do quarto das crianças. A altura da janela ao chão do quarto era bastante considerável, cerca de dois metros e meio ou mais.
Uma tarde, como tantas outras, as crianças brincavam sentadas no parapeito da janela, mas a Marta desequilibrou-se e foi cair dentro do quarto. Havia uma cómoda junto à janela que amorteceu a queda, pois primeiro bateu na cómoda e depois caiu para o chão. Foi um trambolhão enorme e todos se assustaram imenso. Vieram trazer a Marta a casa e não me contaram nada. Eu estava na cozinha a preparar o jantar e não me apercebi de nada de anormal. Passado algum tempo, fui encontrar a Marta deitada no chão do corredor, muito sonolenta e sem se querer mexer. Fiquei assustada, pois ela não se queria levantar. Fui a casa da D. Fina saber o que se tinha passado e ela contou-me o que sucedera, mas minimizando o acontecido, dizendo-me a queda não tinha passado de um enorme susto.
Vim para casa assustadíssima e preocupada. A Marta continuava sem se querer mexer, mas dizia que não lhe doía nada. Já não jantámos e fomos imediatamente para as Urgências de Pediatria, do Hospital de Santa Maria. Aí, os médicos de serviço observaram muito bem a Marta, não lhe fizeram nenhum Raio X, pois acharam que os reflexos dela eram normais e mandaram-na para casa, aconselhando-nos a  observar as suas reacções. A Marta dormiu bem e no dia seguinte levantou-se sem se queixar de dores.
Nunca mais esqueci este episódio, pois alguns anos mais tarde, tinha a Marta nove anos, foi fazer uma radiografia à coluna vertebral, por causa da escoliose que se estava a acentuar bastante, e aí o médico ortopedista detectou que a Marta tinha as 5ª e 6ª vértebras lombares, bastante deformadas. Essa doença chama-se Espondilolistese e pode ser congénita ou provocada por um traumatismo grave.
Na Enciclopédia Médica da Família podemos ler o seguinte:
"Espondidolistese é uma deformidade da coluna em que uma vértebra desliza para a frente, para cima de outra. Pode ocorrer no pescoço ou, mais vulgarmente, na região lombar. Os principais sintomas da espondilolistese são (...) dores na coluna, causadas por compressão da espinal medula. Mais tarde, pode surgir paralisia da parte inferior do corpo, com problemas intestinais e de bexiga. (...) Por vezes, é necessária uma intervenção cirúrgica para recolocar as vértebras na posição correcta."

OS AMIGOS DO PRÉDIO DA RUA DAS CAMÉLIAS

Algum tempo depois de morarmos em Massamá, fizemos amizade com os nossos vizinhos do mesmo patamar. 
A Vina, o Américo, o Paulo e a Sandra (da idade da Rita) foram, durante os 14 anos que ali morámos,  os Amigos, aqueles amigos com quem sempre nos sentimos bem e com os quais passámos momentos inesquecíveis, muito bons, muito divertidos e muito bem dispostos. 
Ainda hoje, a amizade continua, mas o facto de não morarmos tão perto e as vicissitudes da vida deram origem a um certo afastamento.
            No nosso prédio, viviam também os Teixeiras, compadres da Vina e do Américo,  com quem fizemos uma grande amizade. 
O João e a Conceição Teixeira eram os pais  da Nani, da Vera (da idade da Rita) e do João Pedro e também com eles passámos momentos muito divertidos e bons.
            Com todos estes amigos ao pé da porta, a Rita e a Marta nunca se sentiam sós. Este convívio saudável e fraterno contribuiu muito para o seu desenvolvimento harmonioso e saudável. Sempre  adoraram conviver com  pessoas de família e amigos e  sempre prezaram  e respeitaram a amizade.

Os passeios que demos juntos à Serra da Estrela e as férias de Verão, passados no Algarve, na Ericeira, na Costa da Caparica são sempre recordados com imensa saudade.
            Como durante muito tempo não tivemos televisão a cores, era em casa da Vina e do Américo que nos juntávamos para vermos as transmissões mais interessantes na época; os Festivais da Eurovisão ou os Jogos sem Fronteiras eram programas que nos "obrigavam" a um serão em casa deles. Esses serões eram uma festa para os miúdos, pois assim, prolongavam as brincadeiras que tinham tido durante o dia.
            A Marta era a mais pequenina, mas todos se davam tão bem que nunca havia um desentendimento entre eles, tanto a Rita e como a Marta adoravam esses serões de convívio e brincadeira.
             Com a independência de Angola em 1975 e o começo da Guerra Civil naquele país, os pais e os irmãos da Vina tiveram que regressar a Portugal.
O Artur Manuel, o Necas, o irmão mais novo da Vina, na altura com 20 anos, dedicava horas a brincar com os miúdos e por isso se tornou  o seu melhor amigo, com quem brincavam, faziam jogos, concursos de canções e outras actividades que os deixavam felizes e muito bem dispostos. Nestas brincadeiras também colaborava a Isa, irmã da Vina, solteira,  estudante universitária. A Isa, com os seus 25anos, tinha um jeito muito especial para lidar com os miúdos, proporcionava serões divertidíssimos ao Paulo, à Sandra, à Nani, à Vera, ao João Pedro, à Rita e à Marta, sempre a mascote do grupo.
Foi uma época muito feliz e muito importante para o seu desenvolvimento cognitivo e socio-afectivo. Tanto o Necas como a Isa serviam de baby-sitter, pois os miúdos adoravam ficar com eles, enquanto nós, os adultos, aproveitávamos para ir ao cinema, ao teatro ou outros espectáculos que naquela altura apareciam em Lisboa.
Este clima de felicidade e boa disposição acabou bruscamente no dia 3 de Agosto de 1980, com a morte do Necas num brutal acidente de viação, quando regressavam todos de férias no Algarve, onde morreu também o Luís Manuel, filho do José Guilherme (irmão da Vina) e da Teresinha, e ficaram gravemente feridos o João Carlos, filho do Tó( irmão da Vina) e da Cândida e o Pedro e a Susana, irmãos do Luís Manuel, por isso, todos pertenciam à família Fernandes. 
A partir dessa data, nada foi igual a antes do acidente e a Rita e a Marta sentiram muito a morte do nosso querido amigo Necas. Com a morte do Necas A Rita com 10 anos e a Marta com 6 anos, confrontaram-se pela primeira vez, com a triste realidade de perderem um amigo, um amigo muito especial.

PARTILHA

Maria Lina escreveu: "Obrigada, querida Zuzu, pelo sorriso aberto que me ofereceu e que a Zuzu tenha a certeza interior, fez a Marta sorrir no céu. (Rimei sem querer, mas era isto mesmo que queria dizer. Ai, lá estou eu outra vez...).
Acredite que tenho saudades das suas alegres gargalhadas que espero continuem a ecoar. 
Acredito que o blogue vai permitir fazer uma espécie de catarse, pois sei por experiência quer dor partilhada, é dor aliviada. Bjão inspirado nos sorrisos sinceros que são a expressão exterior do belo e do bom que experimentamos. E quem é artista como a amiga, compreende lindamente o alcance desta afirmação. Santa noite, embalados por lindos sonhos de paz e bem."

PARTILHA

Vanda escreveu: "Emocionei-me bastante ao ler o texto. Explicar por palavras o que senti é difícil. No entanto para aqueles que não conhecem a autora e os pais digo-vos que são seres humanos muito especiais que se amam e têm capacidade em amar o próximo.São amigos sempre presentes e gostam do ser humano pelo que ele é, pela sua essência. Poderia estar aqui a falar sobre esta linda familia mas as palavras não chegariam. É um privilégio poder conhecê-los e ser amiga desta família muito especial. Bjs e um grande abraço Vanda" 

Minha querida vanda
Obrigada pelas tuas palavras. Estou na verdade a "despir-me" perante muita gente que não me conhece, e por vezes questiono-me se será uma boa ideia escrever no blog?! Mas, depois, recebo mensagens como a tua e fico tão emocionada por saber que tenho amigos, que são amigos de verdade. É para esses, sobretudo, que eu escrevo e dou a conhecer a Marta, pois todos os meus amigos e conhecidos, há muito que me ouvem falar da Marta,por isso agora é mesmo dá-la a conhecê-la.
Penso muito em ti, pois também eu ando muito em baixo, muito saturada com a vida profissional, e sei como é dificil acordarmos e ter vontade para contrariar este desinterese...
adoro-te
um beijo muito grande da zuzu

PARTILHA

Querida Srª D. Zulmira...Zuzu!!!
Que bom que é vê-la a escrever...continue, faz-nos muito bem!
Só queria dar um grande beijinho pelo dia de ontem e lembrá-la que me lembro muito de si!!!
Um grande beijinho
Rita Rezende

A Rita insiste em tratar-me por Srª D. Zulmira... e eu estou constantemente a corrigi-la pois quero que ela me trate por Zuzu, como me tratam os amigos e familiares. Tem sido a minha terapeuta nestes 10 anos, terríveis de problemas de saude que tenho tido... é um amor, uma ternura e sobretudo uma óptima profissional... 
muito obrigada
um grande beijo zuzu