MARTA

MARTA
O ADEUS PRECOCE DA MINHA ESTRELA MAIOR

domingo, 13 de fevereiro de 2011

FÉRIAS EM MONTE GORDO

MARTA, 2 ANOS
PRAIA DE MONTE GORDO

No ano seguinte, em Julho de 1975, passámos as férias num apartamento em Monte Gordo, no Algarve. Levámos a minha mãe connosco. O meu pai ia aos fins de semana e ficava connosco até  meio da semana.
O apartamento era muito bom, muito espaçoso e ficava perto da praia. todos os fins de semana tinhamos a visita do tio António Manuel e dos filhos Ana Catarina e Angelo, do tio Rodrigo e Odília.
O avô Rodrigo e avó Dolores que ficaram lá uma semana  connosco, era a primeira vez que gozavam 8 dias de férias, pois como tinham o café, este nunca fechava.
Os nossos vizinhos do lado, a Suzete e o Fernando Magno, tinham três filhos, a Mónica, da idade da Rita, o Rodrigo, da idade da Marta e a Filipa, com meses, tornámo-nos  amigos, os miúdos brincavam todos juntos enquanto os adultos organizavam lanches e passeios, onde reinava a boa disposição e a alegria.
Alugámos um toldo durante todo o mês, tínhamos um saco enorme cheio de brinquedos e almofadas, que o banheiro guardava à tarde. Os miúdos brincavam imenso, com  as crianças dos toldos vizinhos.
No ano seguinte, no Verão de1976, voltámos a fazer férias no mesmo apartamento em Monte Gordo, as miúdas já estavam mais crescidas e por isso já não me davam tanto trabalho. Continuámos a ter como vizinhos a família Magno e a conhecer outros amigos que aumentaram o grupo de férias.
Durante esses dois anos de férias, vivemos momentos inesquecíveis em amena cavaqueira, grandes convívios, que a Rita e a Marta nunca mais esqueceram.

DEPOIS DA LENA LER O MANUSCRITO

Termas de Cabeço de Vide, 8 de Agosto de 1999

MARTA, FÉRIAS EM AMARELEJA
AGOSTO 1990

QUERIDA ZUZU
Li sofregamente o manuscrito do livro sobre a Marta. Fiquei muito contente por conhecê-la melhor. 
Quando a Elsa me deu a notícia da morte da Marta, ao telefone, fiquei muito angustiada e nervosa. Estava só com o Tomás ( ainda Bébé) em casa e enquanto me corriam as lágrimas repetia: “ Que horror! Que horror! Não acredito! “ E cá no fundo ficou a tristeza e a frustração por eu não ter conhecido melhor aquela bébé sorridente e simpática, que eu tanto amei e durante meses dei beijinhos na sua fotografia porque sentia saudades dela. E também a frustração de ela não Ter sequer conhecido o meu primeiro filho. Ele nunca iria ver a prima Marta!
Foi também muito doloroso, mas ao mesmo tempo gratificante para mim, ler a parte sobre o último ano da vida da Marta. Porque agora fiquei a conhecer melhor tudo o que se passou e como se passou - A VERDADE.
Peço-te desculpa por não ter conseguido ler as tuas cartas, porque têm um tal peso de dor, que me é insuportável. Não estou no melhor ambiente para dar largas à minha sensibilidade exacerbada. A última parte já teve que ser lida na casa de banho entre lágrimas mudas.
Eu sei que a ti, na tua dor lancinante de todos os dias, viveres a realidade, te vai parecer mais uma vez uma atitude egoísta, mas em toda a minha vida nunca consegui reagir de outro modo às coisas e não é agora em “ velha” que me vou modificar.
Custa-me, porém, falar-te na minha dor pela Marta, pois ela deve parecer-te uma brincadeira ao pé da tua dor de Mãe.
Quero que saibas que te admiro muito pela tua coragem, a coragem com que enfrentas cada dia e a maneira como consegues sempre conversar e ser simpática para os outros com as tuas sonoras gargalhadas contagiantes.
Sei que nunca vou poder ajudá-los, mas acho que um pensamento bom para vocês é o facto de terem tido um privilégio que eu quase não tive - conhecer e conviver com uma pessoa tão fantástica e insubstituível como a Marta.
Escrevi-te porque estou muito comovida e não consigo ir lá para fora, nem me apetece. Por isso, aqui enclausurada na cozinha, escrevo-te aquilo que te queria dizer.
A tua prima sempre amiga
Lena Varela

RECADOS À MARTA

Marta

MARTA, SALA DE MASSAMÁ, 16 ANOS
Era Sábado, um dia que no meu entender ia ser bem diferente do habitual.
Eu, o tio António Manuel e o casal Marques tínhamos combinado ir ao Alentejo, fazer um almoço.
Estava deveras animada pois, o mês de Fevereiro é sempre para mim muito especial. Os campos floridos, o Sol de Inverno que brilha por entre as nuvens, a temperatura amena e principalmente a acalmia alentejana, fazem-me sentir um grande bem estar.
Mais tarde, vim a saber que também tu irias estar presente com os teus pais e um amigo, nesse almoço, em casa da avó Dolores. 
Fiquei ainda mais animada.
Mas querida Amiga, nem tudo o que pensamos e desejamos é a realidade e aquele Sábado acabou por ser de uma grande tristeza e dor, uma dor muito profunda para todos nós e tão difícil de descrever…
A tua missão nesta vida tinha terminado...
A saudade e o desgosto ficaram em todos os que te amavam e admiravam.
Aquele dia 4 de Fevereiro, soalheiro e calmo, tinha escurecido de repente; tudo à nossa volta ficou medonho.
Em silêncio, os nossos olhares cruzavam-se e todos nos interrogávamos sobre o porquê de tão repentinamente ( na flor da vida) teres partido.
Mas há tantos porquês; e sem querer a revolta instala-se, continuo sem perceber o porquê da tua morte, de tanto sofrimento e de tantas lágrimas.
Por vezes, parece-me que nesta vida há um terreno ressequido onde as sementes são de dor.
Só me resta um pouco de Fé. E é em nome dessa Fé  que peço ajuda para todos nós, que tenhamos capacidade de reconhecer que continuas connosco e que na escuridão, a tua presença é uma certeza.

Lá longe, muito longe onde te encontras, o teu Espírito de Luz vai de certeza nos iluminar e vai dar-nos capacidade de responder àquilo que para nós continua sem resposta.

Que Deus ilumine a tua Alma

                                              Da Amiga que muito te Admirava
                                                                LENA 

À MARTA QUE EU VI CRESCER (ODÍLIA)


RITA, MARTA (2 ANOS),  ELSA
Quando a conheci teria uns dois anos e logo gostámos uma da outra.
Acompanhei o seu crescimento e hoje dói-me quando penso que não a verei mais.
Dói-me por ela e pelos pais cuja dor eu não consigo imaginar o tamanho.
Quando o povo diz: “ O sangue corre às veias , lá terá as suas razões. Neste caso, a Marta, minha sobrinha por afinidade, sinto o seu desaparecimento como se de sangue meu se tratasse.
Acontece-me, frequentemente, na rua, olhar uma jovem que passa e nela encontrar inúmeras parecenças com a Marta : na expressão, no olhar, no cabelo, no sorriso “ para a tia Odília”.
Estará sempre no meu coração!

Lisboa, 25 de Outubro de 1999

                                                          Maria Odília Baleiro