MARTA

MARTA
O ADEUS PRECOCE DA MINHA ESTRELA MAIOR

sábado, 5 de fevereiro de 2011

OS FILHOS DA D. FINA

A amizade sempre foi muito cultivada e apreciada pela Marta. Desde muito pequena, que se habituou a conviver com crianças que viviam perto da nossa casa  ou  com os  filhos dos nossos amigos. Adorava ter amigos com quem podia partilhar as brincadeiras.

Começou de muito pequenina, com dois ou três anos, a  brincar no seu quarto ou na praceta, junto à nossa casa da Rua das Camélias, com os filhos da D. Fina, que fazia a limpeza em nossa casa, e que tinha seis filhos pequenos.
As duas raparigas mais velhas adoravam tomar conta da Marta e brincavam com ela tardes inteiras. Eu depositava muita confiança na Paula com sete anos e na Bela com seis anos pois  elas estavam muito habituadas a cuidar e a tratar dos irmãos mais novos; elas tinham um cuidado muito especial para com  a Marta e por isso eu ficava descansada enquanto ela brincava  com elas.
A Marta adorava também a brincadeira e passava os dias a brincar com as bonecas ou a andar no triciclo, no jardim das nossas traseiras,. A todo o momento, eu espreitava da varanda, para ver se tudo corria bem. Juntavam-se mais crianças dos prédios próximos, pois  como a Marta era muito sociável ela gostava de emprestar todos os seus brinquedos  e ela levava para a rua, todos os brinquedos que ela queria, assim todos participavam nas brincadeiras.
Muito raramente vinha para casa a chorar ou zangada com alguma criança, pois todos se davam muito bem  e  todos podiam brincar com os seus brinquedos, com a Nancy, com a Barbie ou com a Tucha, bonecas, que naquela época, meados dos anos 70,  nem todos tinham possibilidades de ter.
Aconteceu nessa altura um episódio que ainda hoje me deixa bastante angustiada quando o recordo.
A  Paula e a Bela moravam na cave do prédio nas nossas traseiras. As janelas ficavam ao nível da rua, e como eram muitos filhos, passavam muito tempo a brincar junto das janelas, que estavam quase sempre abertas, principalmente a do quarto das crianças. A altura da janela ao chão do quarto era bastante considerável, cerca de dois metros e meio ou mais.
Uma tarde, como tantas outras, as crianças brincavam sentadas no parapeito da janela, mas a Marta desequilibrou-se e foi cair dentro do quarto. Havia uma cómoda junto à janela que amorteceu a queda, pois primeiro bateu na cómoda e depois caiu para o chão. Foi um trambolhão enorme e todos se assustaram imenso. Vieram trazer a Marta a casa e não me contaram nada. Eu estava na cozinha a preparar o jantar e não me apercebi de nada de anormal. Passado algum tempo, fui encontrar a Marta deitada no chão do corredor, muito sonolenta e sem se querer mexer. Fiquei assustada, pois ela não se queria levantar. Fui a casa da D. Fina saber o que se tinha passado e ela contou-me o que sucedera, mas minimizando o acontecido, dizendo-me a queda não tinha passado de um enorme susto.
Vim para casa assustadíssima e preocupada. A Marta continuava sem se querer mexer, mas dizia que não lhe doía nada. Já não jantámos e fomos imediatamente para as Urgências de Pediatria, do Hospital de Santa Maria. Aí, os médicos de serviço observaram muito bem a Marta, não lhe fizeram nenhum Raio X, pois acharam que os reflexos dela eram normais e mandaram-na para casa, aconselhando-nos a  observar as suas reacções. A Marta dormiu bem e no dia seguinte levantou-se sem se queixar de dores.
Nunca mais esqueci este episódio, pois alguns anos mais tarde, tinha a Marta nove anos, foi fazer uma radiografia à coluna vertebral, por causa da escoliose que se estava a acentuar bastante, e aí o médico ortopedista detectou que a Marta tinha as 5ª e 6ª vértebras lombares, bastante deformadas. Essa doença chama-se Espondilolistese e pode ser congénita ou provocada por um traumatismo grave.
Na Enciclopédia Médica da Família podemos ler o seguinte:
"Espondidolistese é uma deformidade da coluna em que uma vértebra desliza para a frente, para cima de outra. Pode ocorrer no pescoço ou, mais vulgarmente, na região lombar. Os principais sintomas da espondilolistese são (...) dores na coluna, causadas por compressão da espinal medula. Mais tarde, pode surgir paralisia da parte inferior do corpo, com problemas intestinais e de bexiga. (...) Por vezes, é necessária uma intervenção cirúrgica para recolocar as vértebras na posição correcta."

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