MARTA

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O ADEUS PRECOCE DA MINHA ESTRELA MAIOR

terça-feira, 25 de janeiro de 2011

A semana de 30 de Janºa 3 de Fev.º

A semana de 30 de Janºa 3 de Fev.º

Costumo dizer que a minha ignorância em relação à medicina, fez com que eu não me apercebesse de como era grave o estado de saúde da Marta. Eu e todos aqueles que com ela conviveram nestes cinco dias.
Segunda-feira, dia 30, a Marta levantou-se cedo, como de costume, e sentiu-se adoentada. A Escola ficava bastante longe da casa da Marta e como a manhã estava muito fria e ela não se sentia suficientemente forte para enfrentar os graus quase negativos dos Invernos de Beja, resolveu chamar um táxi  que a levasse à Escola.
À noite, quando lhe telefonámos,  contou-me que tinha ido de táxi, pois sentia-se um pouco doente. "Parece-me que vou ter gripe!... Vou ver se tenho febre"- disse-me.
 Desliguei o telefone e não me preocupei mais com a saúde da Marta. Era Inverno, estava muito frio e tudo indicava que era uma gripe ou constipação que ela ia ter.
Terça-feira, 31, à tarde, depois de vir das minhas aulas, telefonei à Marta para saber como se encontrava. Não estava melhor, contudo tinha ido às aulas. Quando me atendeu o telefone, vinha muito ofegante, e enquanto falava comigo, eu sentia que estava com dificuldades para  respirar. Perguntei-lhe se tinha vindo a correr para atender o telefone e disse-me que não. Que, às vezes, ficava assim com muita dificuldade em respirar. Fiquei muito preocupada. Disse-lhe para marcar consulta no médico o mais urgente possível, e ela concordou. Passado algum tempo, voltei a ligar-lhe e já tinha a respiração normal.
Quarta-feira, 1 , a Marta continuou a  assistir às aulas, os exames estavam marcados e precisava das aulas para se preparar.
Foi ao médico, Dr. Luís Capela, médico de Clínica Geral, a trabalhar nos SAMS, e deve ter lá chegado muito cansada e muito nervosa. Penso que a Marta se estava a dar conta de que estava realmente doente. Queixou-se ao médico que andava doente, com um grande cansaço, que se tinha zangado com o namorado e que andava muito "stressada" com as frequências, penso que deve ter descrito um quadro clínico com o seu habitual à vontade e optimismo. O médico diagnosticou ansiedade, arritmias e nervoso!. Fez-lhe logo ali um electrocardiograma que deu um descontrolo enorme, com 120 pulsações por minuto. Voltou a fazer-lhe outro, depois de ter conversado com a Marta, deve ter-lhe dito para ela se controlar e descontrair e segundo parece, este novo electrocardiograma já não apresentava  sinais de doença, (ambos os electrocardiogramas sumiram, após a morte da Marta!). A Marta saiu do consultório, já era noite, e quando chegou à rua, voltou a sentir-se muito mal, sem forças para ir para casa. Em vez de voltar para o consultório, pois deve ter achado que era tudo nervos! telefonou à Joaquina, companheira na mesma casa, para que a fosse buscar de carro, pois estava sem forças para ir para casa. Tudo estava contra a Marta, a sua grande força para vencer obstáculos, a sua  forte constituição física e a ignorância sobre a doença.
A Marta estava muito mal, mas ninguém se apercebeu disso!
Telefonei-lhe, já tinha ido comprar os medicamentos receitados pelo médico, sentia-se melhor. Sempre que eu lhe telefonava, ela dizia-me que se sentia melhor; penso que era sincera!
Disse-me que o médico a tinha mandado fazer uma radiografia ao tórax, e que lha tinham marcado para a próxima segunda-feira, dia 6. Então, eu disse-lhe que iria para Beja, no Sábado de manhã, passaríamos o fim-de-semana juntas, iríamos fazer a radiografia segunda-feira e depois vínhamos para Massamá, para aí aproveitar os oito dias de férias das frequências.
A Marta insistiu comigo para que eu não fosse, que não valia a pena eu ir e que estava bem sozinha. Eu insisti e ficou combinado que no Sábado de manhã eu chegaria a Beja.
Quinta-feira, dia 2 - Apesar de adoentada e de ter um pouco de febre, penso que nunca ultrapassou os 38º, a Marta continuava a ir às aulas e a estudar. Na aula de Inglês, sentiu-se mal, estava muito branca e quase a desmaiar e pediu à professora que a deixasse sair, para ir comprar uma garrafa de água. A  professora apercebeu-se que ela estava muito mal disposta e perguntou-lhe o que é que ela tinha. A Marta disse-lhe que andava doente e que se sentia muito nervosa, então a professora ofereceu-lhe um calmante, que a Marta tomou e passado pouco tempo já se sentia muito melhor. Todo este mal-estar dava-lhe a ideia errada de que o que tinha eram nervos!
Sexta-feira, 3 - A Marta levantou-se e foi para as aulas. Tinha aula com a Maria Albertina. A Maria viu-a com um aspecto muito abatido e doente e por isso combinaram ir almoçar juntas. Não sei onde almoçaram, sei apenas, que  a Marta comeu carapaus fritos com arroz de tomate e que teve muito prazer na refeição. Depois do almoço, foram a Ferreira do Alentejo ver as obras da casa dos pais da Maria e aí a Marta esteve sempre bem disposta. Subiu e desceu escadas e não manifestou grande cansaço. Pelas 16,30h, pediu à Maria que a fosse levar a casa, a Beja, pois precisava de estudar, e aí ficou o resto do dia.
A amiga Patrícia fazia 21 anos, telefonou-lhe a dar-lhe os parabéns. Contou à Patrícia que andava doente, mas que agora se sentia muito melhor. Disse-lhe que estava à espera da minha visita e que a partir de 2ª feira já estaria em Massamá e aí iriam encontrar-se.
À noite, telefonei-lhe a confirmar que chegaria a Beja cerca das 10h da manhã. Voltou a insistir comigo para que eu não fosse lá cansar-me pois ela estava mais ou menos bem disposta. Não concordei e ficou mais uma vez confirmado que eu iria. Foi a  última vez em que falámos. Eu estava tranquila, pois sentia pela  voz  da Marta que se sentia um pouco melhor.

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