MARTA

MARTA
O ADEUS PRECOCE DA MINHA ESTRELA MAIOR

sexta-feira, 4 de fevereiro de 2011

PARTILHA

Nanda Ruaz escreveu: 
"Zuzu: Partilho de muito do que a Irmã Lina diz. Não deve existir maior dor do que a perda de um filho, embora racionalmente saibamos que eles não nos pertencem. 
Para além de acreditar que não existe "morte", estou convicta que só se consegue ultrapassar uma grande dor com a ajuda de um grande Amor. 
A Zuzu é fantástica a dar-se. Dê-se. Pude ver como é amada pelos seus alunos...A Marta (assim o creio e por isso o digo) fica feliz se a mãe dela for feliz.Tal como a Rita!
Por isso, amiga querida, agarre tudo o que tem de Belo e Bom na sua vida. 
Mas a Zuzu não precisa de conselhos...Aliás, só interiorizamos mesmo aquilo em que acreditamos, não é? Desculpe as minhas exortações. São fruto do muito carinho que lhe tenho. SAUDADES!!!" 
ALENTEJO,
 UMA DAS GRANDES PAIXÕES DA MARTA


Obrigada minha querida amiga, que bom sentir que está em conexão comigo... partilhar estes textos alguns recentes, outros escritos há muito tempo tem-me feito bem... a amizade para mim está apoiada na partilha... e eu quis partilhar tudo isto com amigos sinceros como a Nanda e muitos outros.
Bem Haja
Zuzu

4 FEVEREIRO 2011 - 16 ANOS DEPOIS

MARTA, EM DEZº DE 1994, FALTAVA UM MÊS PARA FAZER OS 21 ANOS
ÚLTIMA FOTO DA MARTA
Como naquele sábado de 4 de Fevereiro de 1995, também hoje o dia está radioso. Está frio, mas o sol e o azul intenso do céu convidam-nos para um passeio... mas lá fora faz frio, muito frio, e por isso apetece ficar resguardada sentada à camilia ao calor reconfortante da braseira.
Faz hoje, 16 anos que tu partiste.
Sinto-me nervosa, não o quero demonstrar, mas estou impaciente com tudo e com todos.
A avó Amélia já aqui veio,com os olhos marejados de lágrimas, com o seu ar muito condoído, dar-me um beijo, um beijo especial de conforto. Eram cerca das 11 horas da manhã, a hora terrível em que tu começaste a tua jornada para a eternidade...
Procuro parecer forte, pois como não choro, deve parecer a quem me vê, que já superei a tua partida. Engano!!! grande engano. Na verdade as lágrimas secaram, mas o aperto no "buraco" que existe no meu peito, desde o dia da tua partida, esse "buraco, dá-me sinal... é um aperto enorme, uma necessidade de suspirar forte, para que o ar entre para que não desfaleça.
A Rita conseguiu escrever um texto lindo, sobre ti (como ela escreve bem!) no blog dela. Fui lê-lo e não resisti a colocá-lo aqui no blog.
Suspiro... fundo... forte... a boca fechada, o ar entra-me pelas narinas e vai "alimentar" a ferida que está em carne viva, dentro do meu peito. 
É mais um dia difícil... é mais um dia de busca de recordações que se baralham, se entrecruzam na minha cabeça...
Os pais que têm filhos a viver no estrangeiro, e que estão anos e anos sem os ver, sabem que eles estão lá, ali, algures no Mundo... devem ter muitas saudades, mas sabem que algum dia, essa saudade acabará, porque  um dia o seu filho chegará...
Eu e muitas mães como eu, sabemos que os nossos filhos partiram para a eternidade e que nunca mais os poderemos abraçar, acarinhar, beijar...
A avó Amélia esteve aqui a visitar-me, está triste... está muito nostálgica, recorda muito os acontecimentos do passado, tem 83 anos mas está muito lúcida; agora já anoiteceu e foi para casa dela, onde está o avô Vitalino sentado à braseira, a ver televisão, com os seus 88 anos, também com uma lucidez invejável. Sofreram e sofrem com a tua partida, deixaste muitas saudades em todos nós...

Como um livro aberto: Para sempre

Como um livro aberto: Para sempre

MENSAGEM DA FERNANDA RUAZ

 Lindo, Zuzu.Sabe que a adoro, não sabe? Ontem passei a tarde com uma pessoa gravemente doente, que nunca teve amor de mãe. 
A vida é estranhamente absurda. 
Uns perdem filhos muito amados e ficam parados na dor; outros param na dor porque ficaram orfãos de pais vivos.
Que pensar? Ou antes, como agir para minorar tanto sofrimento?
Nanda 

MENSAGEM DA IRMÃ LINA NESTE DIA 4 DE FEVº 2011


Querida amiga, Zuzu! 


Quanto gostaria poder aliviar a sua dor e fazer a magia de centrá-la no amor que no caso da filha voou para a eternidade, onde a bondade de Deus que é Pai e que é Mãe mais plenamente que nós os humanos podemos imaginar, a cumulam de felicidade sem fim.


 Não morreu: Está viva. 


Simplesmente não se vê , como muita coisa em que se crê.
Nesta vida peregrina, ninguém é dono de nada e nem de ninguém.
Então, por que não aproveitar o belo e o bom que a vida tem e que por vezes são só breves momentos, mas que nos marcam positivamente por dentro. E no caso da Marta, foram, felizmente, muitos os momentos de bondade de beleza impressos no seu coração de mãe, motivo para dar graças. 


Imagino a Marta a vibrar com as francas gargalhadas da mãe tão amada...Sim porque no céu se ri e canta.É uma contínua festa do Amor.
Beijão com a música da minha oração: PAZ E BEM A ESSE CORAÇÂO DE MÃE QUE DESEJO VER FELIZ TAMBÉM!

A AMIGA AIRES


Minha Querida Marta!
 
Dezasseis anos de ausência, mas trago-te sempre comigo no meu coração.
Todos os anos me lembro deste triste dia. Agora consigo partilhá-lo com todos através das novas tecnologias.
Fico triste por não estares cá para partilhar as "modernices" destes tempos.
TU sabes que estás sempre comigo, e sabes também que todas as vitórias que tenho tido na vida as tenho dedicado a ti.
Quando terminei o 1º curso dediquei-o a ti, pois foi uma escalada que começámos juntas.
Quando terminei o 2º curso voltei a dedicá-lo a ti, era mais uma vitória que queria ter partilhado contigo.
TU sabes porque estou em Beja. TU pediste-me para vir para cá contigo, e eu disse-te de imediato que sim.
TU partiste e eu tinha que continuar o caminho já traçado para nós.
Sei que estejas onde estiveres, estás sempre com um olhinho nesta tua amiga.
Despeço-me com muitas, muitas saudades.
Aires

MATANÇA DO PORCO EM AMARELEJA

28 DE JANEIRO 1995
Durante a semana que passou, falei ao telefone todos os dias com a Marta. 
Estava combinado fazer-se a matança do porco, em Amareleja, no fim de semana, dia 28. 
Quando falávamos ao telefone, a Marta insistia comigo para que eu fosse com o pai à matança, pois ela também iria lá ter. Eu dizia-lhe que não ia, pois não gostava de matanças e que sempre me fizera muita impressão ver tanta carne. A Marta voltava a insistir e eu voltava a dizer-lhe que não ia. Hoje, tenho pena  por não lhe ter feito a vontade, ainda ouço a sua voz ao telefone, muito meiga e doce, pedindo-me para que eu fosse.
Não fui.
A Marta chegou sábado a Amareleja, vinha bem-disposta e de boa saúde. Ajudou na matança, trabalhou imenso, e esteve sempre muito bem, com toda a sua genica e força.
AVÔ VITALINO E MARTA
O avô Vitalino também lá estava e a imagem, que guarda na sua memória, é a da Marta a correr pelo quintal fora, com os cabelos compridos levados pelo vento, para ir telefonar ao matanceiro, pois este estava a demorar-se. 
A Marta sempre foi uma pessoa muito activa, sempre pronta ajudar e a resolver as situações mais diversas que se deparavam. 
Depois do jantar, fez um chá de limão para o avô Vitalino beber, pois este queixou-se que se sentia constipado e ela foi logo, muito resoluta, fazer-lhe um chá. 
ANDRÉ E RODRIGO
SERRA DE SOUSEL 1 DEZEMBRO 1994
Depois ajudou o Rodriguinho nos trabalhos da escola e brincou com o André, sempre teve muita paciência para com os primos e adorava-os.
Falei-lhe nessa noite para a Amareleja, estava bem disposta e pensava ir na camioneta de Domingo das oito horas da manhã para Beja, pois tinha que aproveitar para estudar e descansar um pouco.

21 ANOS

Dia 21 de Jan 95

A Marta pediu-me que não fizesse nada para os anos dela.
Estava muito triste e não lhe apetecia fingir que tudo estava bem. 
Pediu-me que não lhe fizesse bolo de aniversário, almoçámos e depois de almoço, apareceu a Sara, amiga da Rita. 
Estivemos todos a conversar sentados à lareira, a avó Amélia estava connosco e também ela sentiu como a Marta estava triste e desgostosa. 
Pusemos a mesa para o lanche, e quando estavamos a lanchar, por volta das 6 horas da tarde, telefonou o Zé Manuel Almeida dizendo-nos que o pai, o tio Zé Manuel, tinha dado entrada nas urgências do Hospital do Barreiro com um enfarte do miocárdio.
Ficámos muito preocupados, pois a sua situação clínica parecia grave. 
Decidimos ir imediatamente para o Barreiro. 
A Marta , a Rita e a Sara foram para um café aqui perto de casa. Lembro-me de ter dito à Marta: "Oh, Marta, não vamos poder continuar o lanche dos teus anos, porque temos que ir fazer companhia à tia Maria José!... Além disso, temos ainda muitos anos para festejarmos os teus anos!..." 
A Marta olhou-me com uns olhos muito tristes e disse-me: " Não faz mal, nós vamos um bocado ao café e depois vimos para casa, não te preocupes!..."
Chegámos bastante tarde do Barreiro. 
A Marta e a Rita esperavam-nos sentadas no sofá da sala, muito juntinhas uma à outra. Sempre gostaram deste modo de  se sentarem, ou melhor, deitarem,  ficando aí “enroscadas” durante bastante tempo. Tinham ido buscar um filme ao clube de vídeo, tinham-no visto e agora conversavam uma com a outra.
Desde esse dia, a Rita nunca mais esteve com a Marta. Telefonaram-se durante os quinze dias que se seguiram, mas nunca mais se viram.

DIA 21 DE JANEIRO 1995 - 21 ANOS

MARTA, RITA, AVÓ AMÉLIA E AVÔ VITALINO

Nessa tarde de Domingo em Janeiro, fomos levá-la ao autocarro e pareceu-nos um pouco mais animada. A semana decorreu normalmente e a Marta estava muito esperançada em ir morar com a colega de curso a Ana Ganhão, de quem era muito amiga.
No próximo Sábado, dia 21de Janeiro de 1995 era o dia dos seus anos. Veio de autocarro para passar o dia de aniversário connosco.
A Rita veio do Algarve e a avó Amélia veio do Alentejo. Não tínhamos vontade de fazer  festa, pois todos sabíamos como a Marta estava infeliz e todos nos lembrávamos como tudo tinha sido tão diferente no ano anterior, quando completara os  20 anos!


MARTA - FUMADORA

MARTA - FESTA DA ESCOLA D. DINIS - PAIÃ
12  DEZEMBRO 1990
 Soube, mais tarde, pela Rita e pelo Paulo, que a Marta fumava bastante, desde muito nova. 
Durante todo este tempo, ela conseguiu esconder-nos o hábito de fumar! O que mais me admira é que ela e a Rita nos reprovavam imenso quando eu e o pai fumávamos, sentiam-se muito incomodadas com o fumo!
Calculo o motivo por que a Marta escondia de mim o hábito de fumar, tem a ver com uma discussão que nós tivemos quando ela frequentava o 8º ano e era muito amiga da Clara.
Um dia, já ela estava deitada, pronta para dormir, precisei de uma esferográfica e como não encontrasse nenhuma, fui à sua pasta da escola buscar uma, aí encontrei um maço de cigarros e um isqueiro.
Fiquei desesperada! Ela era muito nova para começar a fumar! Perguntei-lhe se ela fumava e desde há quanto tempo? Disse-me que não, que os cigarros eram da Clara, que esta os deixava na mala dela, para que a mãe não soubesse. Depois de muito conversarmos sobre o vício do tabaco e outros vícios, fiquei mais descansada, mas não muito convencida!
No dia seguinte, perguntei à Clara de quem eram os cigarros e esta disse-me que eram dela, que os dava à Marta para guardar todos os dias, antes de ir para casa. Repeti à Clara toda a conversa sobre os malefícios do tabaco e acreditei nelas. A Marta nunca chegava a casa a cheirar a tabaco e por isso comecei a acreditar que a discussão tinha dado os seus frutos!
Afinal, como andei enganada estes anos todos! Nunca vi a Marta fumar, e algumas vezes conversávamos sobre os perigos do tabaco e ela concordava comigo. Este episódio vem confirmar uma característica do temperamento da Marta. Como me tinha dito que não fumava, escondeu-o sempre de mim, pois ela sabia que me estava a "omitir" uma coisa que me havia garantido não fazer.
Ela sabia que depois de crescida, podia dizer-me que fumava e que eu iria respeitar a sua decisão. Há certas atitudes do ser humano que nos deixam desconcertados, esta é uma delas! Porquê esconder um vício durante tantos anos?
Quando mostrei a minha indignação à sua amiga Patrícia Lança, dizendo que não percebia a razão da atitude da Marta, ela contou-me, que a Marta sempre me quis esconder que fumava. Então, todos os dias, quando o comboio se começava a aproximar da estação de Massamá, ela seguia um autêntico ritual. Tinha uma bolsinha de pano para um penso higiénico, que eu lhe comprara, para usar na mala, para uma emergência. Aí, junto ao penso, colocava o maço de cigarros e o isqueiro. Trazia sempre um frasquinho de perfume, e colocava umas gotinhas atrás das orelhas e no pescoço Depois metia na boca um bocadinho de pastilha elástica, para quando chegasse a casa ainda viesse a mastigar e depois chegava-se perto da Patrícia ou da Aires e perguntava-lhes: - “ Cheiro bem? Não cheiro a nada, pois não?” e  quando acabava de fazer tudo isto, o comboio parava na estação. Elas achavam imensa graça a tudo aquilo e fartavam-se de rir. Para elas era engraçadíssimo a atitude repetida e constante da Marta, que não havia um dia que não a realizasse!!!