Dia 21 de Jan 95
A Marta pediu-me que não fizesse nada para os anos dela.
Estava muito triste e não lhe apetecia fingir que tudo estava bem.
Pediu-me que não lhe fizesse bolo de aniversário, almoçámos e depois de almoço, apareceu a Sara, amiga da Rita.
Estivemos todos a conversar sentados à lareira, a avó Amélia estava connosco e também ela sentiu como a Marta estava triste e desgostosa.
Pusemos a mesa para o lanche, e quando estavamos a lanchar, por volta das 6 horas da tarde, telefonou o Zé Manuel Almeida dizendo-nos que o pai, o tio Zé Manuel, tinha dado entrada nas urgências do Hospital do Barreiro com um enfarte do miocárdio.
Ficámos muito preocupados, pois a sua situação clínica parecia grave.
Decidimos ir imediatamente para o Barreiro.
A Marta , a Rita e a Sara foram para um café aqui perto de casa. Lembro-me de ter dito à Marta: "Oh, Marta, não vamos poder continuar o lanche dos teus anos, porque temos que ir fazer companhia à tia Maria José!... Além disso, temos ainda muitos anos para festejarmos os teus anos!..."
A Marta olhou-me com uns olhos muito tristes e disse-me: " Não faz mal, nós vamos um bocado ao café e depois vimos para casa, não te preocupes!..."
Chegámos bastante tarde do Barreiro.
A Marta e a Rita esperavam-nos sentadas no sofá da sala, muito juntinhas uma à outra. Sempre gostaram deste modo de se sentarem, ou melhor, deitarem, ficando aí “enroscadas” durante bastante tempo. Tinham ido buscar um filme ao clube de vídeo, tinham-no visto e agora conversavam uma com a outra.
Desde esse dia, a Rita nunca mais esteve com a Marta. Telefonaram-se durante os quinze dias que se seguiram, mas nunca mais se viram.
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