Massamá,4
de Junho de 1995
Minha
Querida Marta
Faz
hoje quatro meses que tu partiste.
Levei
muito tempo a acordar e a levantar-me, porque não queria enfrentar a realidade
do dia, depois por volta das 14 horas, resolvi levantar-me.
Não
me apetecia fazer NADA. Sentia uma angústia e uma tristeza, dentro de
mim, que se mantiveram e ainda se mantêm neste momento, meia-noite!.
O
pai tenta dormir a meu lado e eu escrevo-te para te relatar o meu dia; Triste
dia!... Não saí à rua. Estava um dia maravilhoso de Verão, o Sol brilhava
intensamente, o céu estava azul e límpido, sem uma nuvem no céu. Não me
apetecia sair, não me apetecia estar em casa, não me apetecia nada...
Depois
do almoço, eu não almocei porque não tinha vontade, comi apenas uma meloa,
resolvemos, o pai e eu, ir arrumar os teus livros e cadernos na arrecadação. Já
há alguns dias, que eu trouxe um caixote enorme de cartão da rua e enchemo-lo
com as tuas coisas, ficou tudo arrumado. (...).
Pude
ver como os teus apontamentos estão organizados, muito limpos, tudo em ordem,
como tu eras cuidadosa com os teus estudos!...
Quantas
e quantas horas não perdeste ( ou ganhaste?) a passar tudo a limpo!...
Tanto
que tu gostavas do teu curso! Como tu estavas feliz quando foste para Beja!...
Que força malévola te empurrava para aí encontrares a morte?
Tu,
trabalhadora e cuidadosa, andavas preocupada por não conseguires obter os
resultados que merecias! Tanto que tu estudavas! Como eras empenhada e
responsável!... Não posso pensar que tanto trabalho e esforço não te
beneficiaram em nada, em duas horas tudo acabou para ti .... como não devo
andar revoltada com a vida? Para que vale a pena viver e lutarmos?
Não,
não somos nada, não valemos nada; tudo é efémero, a Morte é mais forte do que
nós, do que tudo! ...
Cada
dia que passa me sinto mais revoltada. A saudade IMENSA, que tenho dentro de
mim, não me deixa ver a vida com um mínimo de optimismo. Tenho tantas saudades
tuas!...
Onde
irei arranjar forças para superar e enfrentar esta saudade, esta tristeza, esta
angústia, que dia-a-dia cresce como
nuvens escuras empurradas pelo vento e que tornam todo o firmamento
negro e ameaçador. Cada vez mais, se adensa a tempestade dentro de mim. A
tristeza no meu coração negro, negro de dor e saudade, aumenta dia a dia.(...)
Vou
ler um pouco para tentar acalmar esta angústia e esta tristeza.
Até
amanhã.
Mil
beijos da mãe que te adora Zuzu
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