Massamá,
2 de Junho de 1995 (1h 20m)
Minha
Querida Marta
Como
foste sempre tão meiga e amiga de partilhar o imenso amor que tinhas dentro de
ti!...
Tenho
estado a ver os desenhos e as cartinhas que nos escrevias a mim e ao pai,
quando eras pequenina. Desenhos cheios de ternura e que lembram a menina meiga
e boa que tu eras e sempre foste.
Como
não me apercebi quando nasceste, de que serias uma menina especial e que
estarias tão pouco tempo (apenas 21
anos! ) comigo? Porque não descobri que deveria ter-te acarinhado, amado e dado
mais atenção em todos os momentos da tua vida? já que esta foi tão curta?
Lembro-me
das longas conversas que tinhamos quando começaste a tua adolescência. Todas as
noites, tu tinhas dúvidas, estavas triste, sentias-te perdida, desencontrada,
dividida ... então eu procurava pôr as ideias mais organizadas na tua cabeça.
Eu conversava muito contigo e tu ouvias, porque sempre soubeste ouvir!...
Quantas e quantas noites, não me fui deitar já bastante tarde e muito cansada,
porque os teus " problemas" de adolescente não tinham fim.
Hoje,
que sei que nunca mais poderei falar contigo, revolto-me e fico irritada comigo
por não te ter dado ainda uma maior atenção e mais carinho. Tu sempre foste tão boa e meiga!... adoravas
o pai, a mãe e a Rita ... éramos para ti, os seres mais importantes que te rodeavam
... Eu não podia adivinhar que seria tão passageira a tua vida aqui na Terra.
Amanhã,
vou arrumar os teus cadernos, e outros materiais que trouxemos de Beja. Vamos
guardar tudo na arrecadação, para que não se estraguem.
Os
teus livros estão na tua estante do escritório, e ainda não tive coragem de
lhes mexer. Como tu estimavas as tuas coisas! Como tratavas todas as tuas
coisas pessoais com carinho e amor!... Os objectos mais insignificantes tinham
para ti o mesmo valor de uma coisa importante... Amanhã vamos arrumar tudo, de
modo a podermos vê-los quando nos apetecer…para vermos como tu, Marta eras tão
organizada, tão trabalhadora e muito cumpridora das tuas obrigações.
Apetece-me
chorar alto. O pai dorme a meu lado e eu queria chorar, chorar para aliviar
esta dor imensa que me oprime. Como é possível ter-nos acontecido isto a nós? A
ti, minha querida filha, tão boa, tão meiga, tão amorosa. Como eu tenho
saudades tuas!... Como eu estou revoltada com esta vida horrível que me estava
destinada!...
Até
amanhã.
Muitos
beijos da mãe Zuzu
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