MARTA COM A AVÓ AMÉLIA NO DIA DO PEDIDO DE CASAMENTO |
No
dia 12 de Maio de 94 escreve:
"12 de Maio
Hoje foi um dia muito importante para mim.
O Paulo pediu-me em casamento aos meus pais,
não marcámos data, mas se tudo correr bem daqui a um ano ou menos.
O Paulo fez tudo como manda a
"praxe", pediu ao Zé Maria e à
Paula para irem a minha casa beber café, depois de um pouco de conversa o Zé
Maria fez o comunicado.
O meu pai ficou muito admirado, pois nem ele
nem a minha mãe desconfiavam de alguma coisa. Só a minha avó Amélia estava um
pouco desconfiada, ela ficou muito emocionada. Penso que os meus pais ficaram
contentes, mas não demonstraram muito. O meu pai como era de esperar começou
logo com os seus pessimismos, a minha
mãe reagiu como eu esperava.
Foi um dia muito feliz, mas muito
emocionante para mim.
A Paula estava muito feliz.
E eu e o Paulo também gostamos de nos tratar
por "noivos".
A Paula e o Zé Maria foram muito simpáticos.
Espero que
eu e o Paulo. sejamos muito felizes."
MARTA NO DIA DO PEDIDO DE CASAMENTO |
O pedido de casamento da Marta apanhou-nos de surpresa. Calculávamos que um dia eles pensariam em casar-se, mas como já viviam juntos, sem nos terem perguntado nada, achávamos que não haveria pedido de casamento.
O
Paulo andava muito entusiasmado em explorar uma propriedade do pai dele,
localizada perto de Beja, por isso, decidiram pedir um subsídio ao Ministério
da Agricultura para plantar sobreiros e azinheiras. A Marta fazia parte da
"sociedade" , como jovem estudante da Escola Superior Agrária e era
também responsável pelos empréstimos ao Ifadap. Quando ela disse que o Paulo
queria vir a nossa casa, com a mãe e o Zé Maria, eu pensei que seria por causa
do empréstimo, mas não deixei de ficar um pouco desconfiada.
Nesse
dia, a Marta tinha uma consulta de estomatologia na Dr.ª Armanda, por
isso, o Zé veio mais cedo do Banco, para
a levar a Oeiras. Como esteve cerca de duas horas para desvitalizar um ou dois dentes, quando chegou
aqui a casa, vinha muito mal disposta, muito branca e cheia de dores de dentes.
Ela estava nervosa e preocupada, pois sabia que o Paulo e a mãe apareceriam
dentro de pouco tempo. Deitou-se no sofá e o aspecto dela era de quem estava com
muitas dores. Eu estava muito preocupada com a Marta, sempre sofreu com dores
de dentes e quando devia estar bem, com boa disposição,estava mesmo doente.
Pedi
à minha mãe que fizesse um bolo para o café. Eu andava a dar assistência à
Marta e a organizar as coisas. Quando fomos tirar o bolo da forma, este começou
a baixar, a baixar e a minguar e ficou
com um aspecto horrível. A minha mãe
disse que nunca tinha feito um bolo tão ruim!
Qualquer
coisa superior a mim fazia-me sentir angustiada e nervosa, eu não percebia o
que se estava a passar comigo, mas eu
pressentia alguma coisa de ruim, algo que iria empecilhar a felicidade
da minha Marta, por isso, sentia-me apreensiva.
Olhava a Marta, via-a muito mal encarada, mas
feliz. Porque estaria eu assim?
Hoje
sei a razão e por isso fico muito angustiada e muito triste.
O
Paulo ofereceu-lhe um anel de noivado, que a Marta nunca mais tirou do dedo.
Ela adorava aquele anel e toda a sua simbologia.
No mês de Agosto
de 1994, como o Paulo tivesse um apartamento para alugar em Tróia, decidi
pedir-lhe que nos alugasse o apartamento. Os meus pais também foram passar lá
os 10 dias de férias. A Marta e o Paulo decidiram também ficar connosco. Tanto
eu como o Zé sentíamos que algo não estava bem.
Não gostei do
relacionamento entre eles. O Paulo enervava-a imenso e por vezes o ambiente era
tenso. Ele andava nervoso e conseguia contagiar-nos a todos com o seu
nervosismo. Ficava na pesca horas intermináveis e a Marta sentia-se na
obrigação de o acompanhar, para sítios muito isolados, onde não havia ninguém.
Por vezes ela ficava connosco e durante o tempo de férias senti que a Marta
andou sempre muito dividida e ansiosa para poder contentar a todos, a nós e ao
namorado.
Beja
– 1994
Alguns
meses depois, talvez em Setembro ou Outubro, não sei precisar quando, por volta
das 10 horas da noite, recebemos um telefonema da Marta de Beja, a chorar
imenso, bastante descontrolada e nervosa, dizendo-nos que ela e o Paulo tinham
tido uma discussão e que este fizera a mala e tinha saído de casa. Chorava
desseperada e estava muito triste; do lado de cá da linha eu sentia a
desorientação dela. A Marta não gostava de discussões e ficava completamente
perdida quando alguém discutia com ela. Eu sentia-me impotente, estava longe, e
não sabia o que dizer-lhe numa situação tão dramática. Ela pedia-me ajuda e eu
não podia dar-lha. Disse-lhe que se acalmasse, pois se o Paulo gostasse dela,
ele voltaria. Que se descontraísse e se acalmasse que tudo tinha uma solução.
Ela ouvia-me com muita atenção, era uma das características da Marta o
ouvir-nos e acatar os nossos conselhos, penso que as minhas palavras a
consolaram e a acalmaram um pouco. Desligámos o telefone. Eu fiquei muito
preocupada, pois sabia que a minha filha estava sozinha e longe, sem que eu
pudesse apoiá-la. Passado algum tempo, voltei a ligar-lhe. Encontrei-a mais
calma e mais resignada. A Marta tinha estado a falar com a mãe do Paulo e esta também a tinha tranquilizado,
dizendo-lhe que ele voltaria. Ao fim de uma duas ou três horas, a Marta
telefonou-me, dizendo-me que o Paulo voltara, que tinham tido uma grande
conversa e que ele decidira ficar.
Este
incidente alertou-me para a fragilidade desta união, afinal não era tão sólida
e estável como estávamos a pensar. Depois disso, apercebi-me algumas vezes que
a Marta sofria com certas atitudes do Paulo e que este não se preocupava muito
quando dizia uma palavra que a magoava e por vezes, eu sentia que o Paulo
menosprezava a Marta, quando ela era, em muita coisa, superior a ele.
A
Marta sabia aquilo que queria para o seu futuro, tinha um objectivo concreto a
realizar, esforçava-se para concluir o seu curso o mais rapidamente possível.
Estava com muita vontade para que esta união, que ela assumiu,
desse certa e, por vezes, anulava-se um pouco perante o feitio crítico e
complicado do Paulo. Este, desde que viviam juntos, procurava empregos e
ocupações que lhe dessem uma independência financeira, mas nunca o conseguiu.
Penso que foi um dos motivos por que esta união passou tantas atribulações.
No
Natal de 1994, notava-se um certo mal estar entre eles. Chegaram de Beja no dia
24 de Dezembro, vinham um pouco tensos, sentia-se que "as coisas" não
estavam bem. Percebi que estavam com pouco dinheiro e que queriam ir fazer
compras de Natal, isso incomodava-os bastante. Dei algum dinheiro à Marta e
saíram para fazer as compras.
A
Odília e o Rodrigo tinham-nos convidado a passar a noite da consoada na
Marisol, para estarmos todos juntos, com a avó Dolores e a tia Pulquéria que
vieram de Amareleja para passar o Natal connosco.
A
Marta e o Paulo estavam sentados à minha frente. Não me lembro quais os temas
de conversa havidos durante a ceia de Natal, recordo apenas a Marta a
esforçar-se para que o Paulo estivesse mais bem disposto e se descontraísse, pois
ele mostrava um certo enfado por estar ali.
Sentíamo-nos
relativamente bem. Estávamos em família, reunidos como acontecia em tantos
Natais. Faltava o avô Baleiro, que nos tinha deixado para sempre, há dois anos.
Nada fazia prever que estivéssemos tão próximos
de uma tão grande fatalidade. Ah, se nós pudéssemos adivinhar o
futuro!...Saberíamos viver intensamente todos os acontecimentos, dos maiores
aos mais insignificantes.
No
dia seguinte, o almoço do Dia de Natal foi como todos os almoços de um dia de Natal,
não me lembro se a Marta veio sozinha almoçar, se veio com o Paulo, penso que
estava sozinha e o namorado foi almoçar com o pai ou com a mãe; há um vazio
enorme na minha memória do que foi esse Natal.
Logo
a seguir ao Natal, foram-se embora para Beja. Desde que começaram a viver juntos,
a Marta ficava o tempo indispensável connosco, já estávamos habituados, mas às
vezes, não resistíamos a perguntar-lhe se ela não quereria ficar mais uns dias
aqui em casa. Claro que tínhamos a resposta habitual de que tinha que ir para
estudar, nós concordávamos!...
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