MARTA

MARTA
O ADEUS PRECOCE DA MINHA ESTRELA MAIOR

quarta-feira, 12 de dezembro de 2012

O PEDIDO DE CASAMENTO 12 DE MAIO DE 1994

MARTA COM A AVÓ AMÉLIA NO DIA DO PEDIDO DE CASAMENTO




No dia 12 de Maio de 94 escreve:

                          "12 de Maio
Hoje foi um dia muito importante para mim.
O Paulo pediu-me em casamento aos meus pais, não marcámos data, mas se tudo correr bem daqui a um ano ou menos.
O Paulo fez tudo como manda a "praxe",  pediu ao Zé Maria e à Paula para irem a minha casa beber café, depois de um pouco de conversa o Zé Maria fez o comunicado.
O meu pai ficou muito admirado, pois nem ele nem a minha mãe desconfiavam de alguma coisa. Só a minha avó Amélia estava um pouco desconfiada, ela ficou muito emocionada. Penso que os meus pais ficaram contentes, mas não demonstraram muito. O meu pai como era de esperar começou logo com os seus  pessimismos, a minha mãe reagiu como eu esperava.
Foi um dia muito feliz, mas muito emocionante para mim.
A Paula estava muito feliz.
E eu e o Paulo também gostamos de nos tratar por "noivos".
A Paula e o Zé Maria foram muito simpáticos.
Espero que  eu e o Paulo. sejamos muito felizes."

MARTA NO DIA DO PEDIDO DE CASAMENTO


















O pedido de casamento da Marta apanhou-nos de surpresa. Calculávamos que um dia eles pensariam em casar-se, mas como já viviam juntos, sem nos terem perguntado nada, achávamos que não haveria pedido de casamento.
O Paulo andava muito entusiasmado em explorar uma propriedade do pai dele, localizada perto de Beja, por isso, decidiram pedir um subsídio ao Ministério da Agricultura para plantar sobreiros e azinheiras. A Marta fazia parte da "sociedade" , como jovem estudante da Escola Superior Agrária e era também responsável pelos empréstimos ao Ifadap. Quando ela disse que o Paulo queria vir a nossa casa, com a mãe e o Zé Maria, eu pensei que seria por causa do empréstimo, mas não deixei de ficar um pouco desconfiada.
Nesse dia, a Marta tinha uma consulta de estomatologia na Dr.ª Armanda, por isso,  o Zé veio mais cedo do Banco, para a levar a Oeiras. Como esteve cerca de duas horas para  desvitalizar um ou dois dentes, quando chegou aqui a casa, vinha muito mal disposta, muito branca e cheia de dores de dentes. Ela estava nervosa e preocupada, pois sabia que o Paulo e a mãe apareceriam dentro de pouco tempo. Deitou-se no sofá e o aspecto dela era de quem estava com muitas dores. Eu estava muito preocupada com a Marta, sempre sofreu com dores de dentes e quando devia estar bem, com boa disposição,estava mesmo doente.
Pedi à minha mãe que fizesse um bolo para o café. Eu andava a dar assistência à Marta e a organizar as coisas. Quando fomos tirar o bolo da forma, este começou a baixar, a baixar e a minguar  e ficou com um aspecto horrível. A minha mãe  disse que nunca tinha feito um bolo tão ruim!
Qualquer coisa superior a mim fazia-me sentir angustiada e nervosa, eu não percebia o que se estava a passar comigo, mas eu  pressentia alguma coisa de ruim, algo que iria empecilhar a felicidade da minha Marta, por isso, sentia-me apreensiva.
 Olhava a Marta, via-a muito mal encarada, mas feliz. Porque estaria eu assim?
Hoje sei a razão e por isso fico muito angustiada e muito triste.

O Paulo ofereceu-lhe um anel de noivado, que a Marta nunca mais tirou do dedo. Ela adorava aquele anel e toda a sua simbologia.


No mês de Agosto de 1994, como o Paulo tivesse um apartamento para alugar em Tróia, decidi pedir-lhe que nos alugasse o apartamento. Os meus pais também foram passar lá os 10 dias de férias. A Marta e o Paulo decidiram também ficar connosco. Tanto eu como o Zé sentíamos que algo não estava bem.
Não gostei do relacionamento entre eles. O Paulo enervava-a imenso e por vezes o ambiente era tenso. Ele andava nervoso e conseguia contagiar-nos a todos com o seu nervosismo. Ficava na pesca horas intermináveis e a Marta sentia-se na obrigação de o acompanhar, para sítios muito isolados, onde não havia ninguém. Por vezes ela ficava connosco e durante o tempo de férias senti que a Marta andou sempre muito dividida e ansiosa para poder contentar a todos, a nós e ao namorado. 

Beja – 1994

Alguns meses depois, talvez em Setembro ou Outubro, não sei precisar quando, por volta das 10 horas da noite, recebemos um telefonema da Marta de Beja, a chorar imenso, bastante descontrolada e nervosa, dizendo-nos que ela e o Paulo tinham tido uma discussão e que este fizera a mala e tinha saído de casa. Chorava desseperada e estava muito triste; do lado de cá da linha eu sentia a desorientação dela. A Marta não gostava de discussões e ficava completamente perdida quando alguém discutia com ela. Eu sentia-me impotente, estava longe, e não sabia o que dizer-lhe numa situação tão dramática. Ela pedia-me ajuda e eu não podia dar-lha. Disse-lhe que se acalmasse, pois se o Paulo gostasse dela, ele voltaria. Que se descontraísse e se acalmasse que tudo tinha uma solução. Ela ouvia-me com muita atenção, era uma das características da Marta o ouvir-nos e acatar os nossos conselhos, penso que as minhas palavras a consolaram e a acalmaram um pouco. Desligámos o telefone. Eu fiquei muito preocupada, pois sabia que a minha filha estava sozinha e longe, sem que eu pudesse apoiá-la. Passado algum tempo, voltei a ligar-lhe. Encontrei-a mais calma e mais resignada. A Marta tinha estado a falar com a mãe do Paulo  e esta também a tinha tranquilizado, dizendo-lhe que ele voltaria. Ao fim de uma duas ou três horas, a Marta telefonou-me, dizendo-me que o Paulo voltara, que tinham tido uma grande conversa e que ele decidira ficar.
Este incidente alertou-me para a fragilidade desta união, afinal não era tão sólida e estável como estávamos a pensar. Depois disso, apercebi-me algumas vezes que a Marta sofria com certas atitudes do Paulo e que este não se preocupava muito quando dizia uma palavra que a magoava e por vezes, eu sentia que o Paulo menosprezava a Marta, quando ela era, em muita coisa, superior a ele.
A Marta sabia aquilo que queria para o seu futuro, tinha um objectivo concreto a realizar, esforçava-se para concluir o seu curso o mais rapidamente possível. Estava com  muita  vontade para que esta união, que ela assumiu, desse certa e, por vezes, anulava-se um pouco perante o feitio crítico e complicado do Paulo. Este, desde que viviam juntos, procurava empregos e ocupações que lhe dessem uma independência financeira, mas nunca o conseguiu. Penso que foi um dos motivos por que esta união passou  tantas atribulações.

No Natal de 1994, notava-se um certo mal estar entre eles. Chegaram de Beja no dia 24 de Dezembro, vinham um pouco tensos, sentia-se que "as coisas" não estavam bem. Percebi que estavam com pouco dinheiro e que queriam ir fazer compras de Natal, isso incomodava-os bastante. Dei algum dinheiro à Marta e saíram para fazer as compras.
A Odília e o Rodrigo tinham-nos convidado a passar a noite da consoada na Marisol, para estarmos todos juntos, com a avó Dolores e a tia Pulquéria que vieram de Amareleja para passar o Natal connosco.
A Marta e o Paulo estavam sentados à minha frente. Não me lembro quais os temas de conversa havidos durante a ceia de Natal, recordo apenas a Marta a esforçar-se para que o Paulo estivesse mais bem disposto e se descontraísse, pois ele mostrava um certo enfado por estar ali.
Sentíamo-nos relativamente bem. Estávamos em família, reunidos como acontecia em tantos Natais. Faltava o avô Baleiro, que nos tinha deixado para sempre, há dois anos. Nada fazia prever  que estivéssemos tão próximos de uma tão grande fatalidade. Ah, se nós pudéssemos adivinhar o futuro!...Saberíamos viver intensamente todos os acontecimentos, dos maiores aos mais insignificantes.
No dia seguinte, o almoço do Dia de Natal foi como todos os almoços de um dia de Natal, não me lembro se a Marta veio sozinha almoçar, se veio com o Paulo, penso que estava sozinha e o namorado foi almoçar com o pai ou com a mãe; há um vazio enorme na minha memória do que foi esse Natal.
Logo a seguir ao Natal, foram-se embora para Beja. Desde que começaram a viver juntos, a Marta ficava o tempo indispensável connosco, já estávamos habituados, mas às vezes, não resistíamos a perguntar-lhe se ela não quereria ficar mais uns dias aqui em casa. Claro que tínhamos a resposta habitual de que tinha que ir para estudar, nós concordávamos!...

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