A PRAIA
As ondas ritmadas desfazem-se na areia solitária.
O céu, cor de chumbo, reflecte-se na água. A água é escura e triste.
Estou só. Estou acompanhada pelo pensamento em ti.
Penso em ti...
Olho o mar, as gaivotas, o céu nublado e cinzento.
Uma gaivota branca não tem forças para voar. Procuro ajudá-la. Não consegue reagir, vai morrer ali mesmo. O bando ignora-a. Voam de um lado para o outro, poisam junto às águas sujas do esgoto.
Pobre jovem gaivota. Também ela não vai saber o que é envelhecer. Tal como tu, que partiste na flor da idade, que partiste quando começavas a descobrir o bom que é viver.
Olho-a, respira com dificuldade. Não tem forças para levantar a cabeça. Não pode mexer-se. As patas estão inertes, sem forças para susterem o corpo jovem, de lindas e sedosas penas brancas e azuisl.
Olho-a e lembro o teu sofrimento. Lembro os momentos dramáticos que passámos. Eu nunca pensei que tu partisses assim, daquela maneira.
Tu, forte e saudável, a mais saudável de nós todos, nunca poderias partir assim! longe de mim tal ideia. Sempre pensei que recuperasses.
Hoje, revolto-me por ter acreditado nos médicos e de não ter ido para o pé de ti, assistir aos teus últimos momentos, assistir contigo ao teu último suspiro.
Os médicos foram egoístas, não me disseram que tu estavas a morrer, ou por outra, talvez eles mo dessem a perceber, só que eu nunca pensei nisso.
Pensei que era uma coisa passageira, um mal estar, uma indisposição e que tudo seria resolvido. Afinal, nunca mais te vi com vida, minha querida, minha pequenina. Quando beijo a tua fotografia sinto o frio do teu corpo morto, a sensação é a mesma, por isso, tenho alguma dificuldade em beijar o teu retrato.
Olho-os, vejo-os, mas raramente os beijo, porque o frio do vidro me transporta para momentos dolorosos, que apesar de não querer esquecê-los, também me é difícil recordá-los.
Carcavelos 7 de Dezembro de 1995
Da mãe Zuzu
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