O nascimento
Numa tarde fria de Inverno, pelas 16 horas,
do dia 21 de Janeiro de 1974, nasceu a Marta na Clínica de S.Gabriel em Lisboa.
Para vir ao mundo a Marta teve que lutar muito, pois tanto a gravidez como o
parto foram bastante conturbados. Sinais constantes de aborto, obrigaram-me a tratamentos
constantes e a um repouso que me deixavam muito nervosa e ansiosa. Com sete meses
de gravidez, voltei a ter sinal de aborto e por isso tive que ter mais repouso, para ver se o bébé
nascia na data prevista. Quando faltavam umas duas semanas, eu, o pai e a Rita
resolvemos ir de malas e bagagens para
Benfica, para casa da avó Amélia e do avô Vitalino para ficármos mais perto da
clínica.
Entrei na
Clínica dia 20 por volta das 10 horas da noite. Sentia grandes contracções e
estava na data prevista para o parto. O meu médico assistente era o director da
clínica e eu sentia-me apoiada, além disso, a Rita tinha também nascido ali e
apesar de ter nascido de cesariana, tudo tinha corrido bem.
O médico
convenceu-se de que como era o segundo filho, eu teria um parto normal, então,
devido a essa ideia do obstetra tudo se complicou. Comecei em trabalho de
parto, com muitas dores, mas a dilatação
não se fazia, e o sofrimento começou a ser muito grande.
De tempos a tempos, aparecia uma enfermeira e
eu pedia-lhe que chamassem o médico, pois sentia que não aguentava por mais
tempo, tantas dores. Passadas não sei quantas horas, para mim foram uma
eternidade, comecei a descontrolar-me e penso mesmo que perdi os sentidos.
Chamaram o médico e imediatamente fui para a sala de operações, onde me foi
feita uma cesariana. Nasceu uma menina perfeita, mas já com sinais visíveis de
sofrimento, por isso a bébé foi para a incubadora onde esteve cerca de doze
horas. Só no dia seguinte vi a minha bebé.
Partilhei o
quarto da Clínica com uma jovem parturiente inglesa que dera à luz um rapaz.
Ela disse-me que se tivesse tido uma rapariga
chamar-se-ia Marta. Fiquei a pensar no nome, que me soou bastante bonito
e imediatamente pensei que a minha bébé chamar-se-ia Marta.
Como gosto de
nomes pequenos, logo ficou decidido, que este seria o seu nome.
A Marta sempre
gostou muito do nome dela e às vezes, chamávamos-lhe de uma forma
carinhosa Martinha ou Martocas.
Foi uma bébé
muito saudável e bem disposta. Quando fez um ano de idade já andava e dizia
algumas palavras. O facto de conviver com crianças, um pouco mais velhas que
ela, do prédio, da rua e com os primos, desenvolveu-a e tornou-a muito
sociável.
AMarta tinha
três meses quando se deu a Revolução do 25 de Abril de 1974. A partir dessa
data, o nosso país sofreu grandes
modificações políticas e sociais.
Tanto eu como o
Zé éramos muito jovens e há muito que desejávamos mudanças no regime, por isso esperávamos que a
Revolução do Movimento das Forças Armadas viesse a transformar Portugal num país democrático, como
na verdade veio a acontecer, onde todos os cidadãos pudessem participar na
escolha dos governantes, onde não houvesse censura, nem polícia politica e
sobretudo que acabasse com a guerra no Ultramar, a qual parecia nunca mais
terminar.
Vivíamos intensamente todas essas
mudanças, necessárias para a libertação do
país de 40 anos de ditadura, mas
como tínhamos as crianças muito pequenas não nos era possível uma participação
mais activa. Foi com enorme e grande entusiasmo que participei na grande
manifestação do 1º de Maio de 1974, enquanto o Zé ficou com as crianças, vendo
pela televisão toda aquela enorme
multidão que saiu da Alameda Afonso
Henriques, subiu a Av. Almirante Reis para se dirigir ao estádio 1º de Maio,
onde os principais dirigentes políticos puderam usar da palavra. Tudo era novo
e apaixonante para quem nunca tinha podido expressar livremente as suas ideias.
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