MARTA

MARTA
O ADEUS PRECOCE DA MINHA ESTRELA MAIOR

quarta-feira, 12 de dezembro de 2012

O NASCIMENTO


O nascimento
            Numa tarde fria de Inverno, pelas 16 horas, do dia 21 de Janeiro de 1974, nasceu a Marta na Clínica de S.Gabriel em Lisboa. Para vir ao mundo a Marta teve que lutar muito, pois tanto a gravidez como o parto foram bastante conturbados. Sinais constantes  de aborto, obrigaram-me a tratamentos constantes e a um repouso que me deixavam muito nervosa e ansiosa. Com sete meses de gravidez, voltei a ter sinal de aborto e por isso  tive que ter mais repouso, para ver se o bébé nascia na data prevista. Quando faltavam umas duas semanas, eu, o pai e a Rita resolvemos ir de malas e bagagens  para Benfica, para casa da avó Amélia e do avô Vitalino para ficármos mais perto da clínica.
Entrei na Clínica dia 20 por volta das 10 horas da noite. Sentia grandes contracções e estava na data prevista para o parto. O meu médico assistente era o director da clínica e eu sentia-me apoiada, além disso, a Rita tinha também nascido ali e apesar de ter nascido de cesariana, tudo tinha corrido bem.
O médico convenceu-se de que como era o segundo filho, eu teria um parto normal, então, devido a essa ideia do obstetra tudo se complicou. Comecei em trabalho de parto, com muitas dores,  mas a dilatação não se fazia, e o sofrimento começou a ser muito grande.
 De tempos a tempos, aparecia uma enfermeira e eu pedia-lhe que chamassem o médico, pois sentia que não aguentava por mais tempo, tantas dores. Passadas não sei quantas horas, para mim foram uma eternidade, comecei a descontrolar-me e penso mesmo que perdi os sentidos. Chamaram o médico e imediatamente fui para a sala de operações, onde me foi feita uma cesariana. Nasceu uma menina perfeita, mas já com sinais visíveis de sofrimento, por isso a bébé foi para a incubadora onde esteve cerca de doze horas. Só no dia seguinte vi a minha bebé.
Partilhei o quarto da Clínica com uma jovem parturiente inglesa que dera à luz um rapaz. Ela disse-me que se tivesse tido uma rapariga  chamar-se-ia Marta. Fiquei a pensar no nome, que me soou bastante bonito e imediatamente pensei que a minha bébé chamar-se-ia Marta.
Como gosto de nomes pequenos, logo ficou decidido, que este seria o seu nome.
A Marta sempre gostou muito do nome dela e às vezes, chamávamos-lhe de uma forma carinhosa  Martinha ou Martocas.
Foi uma bébé muito saudável e bem disposta. Quando fez um ano de idade já andava e dizia algumas palavras. O facto de conviver com crianças, um pouco mais velhas que ela, do prédio, da rua e com os primos, desenvolveu-a e tornou-a muito sociável.
AMarta tinha três meses quando se deu a Revolução do 25 de Abril de 1974. A partir dessa data, o nosso país sofreu  grandes modificações políticas e sociais.
Tanto eu como o Zé éramos muito jovens e há muito que desejávamos  mudanças no regime, por isso esperávamos que a Revolução do Movimento das Forças Armadas viesse a  transformar Portugal num país democrático, como na verdade veio a acontecer, onde todos os cidadãos pudessem participar na escolha dos governantes, onde não houvesse censura, nem polícia politica e sobretudo que acabasse com a guerra no Ultramar, a qual parecia nunca mais terminar.
           Vivíamos intensamente todas essas mudanças, necessárias para a libertação do  país de  40 anos de ditadura, mas como tínhamos as crianças muito pequenas não nos era possível uma participação mais activa. Foi com enorme e grande entusiasmo que participei na grande manifestação do 1º de Maio de 1974, enquanto o Zé ficou com as crianças, vendo pela televisão toda aquela  enorme multidão que  saiu da Alameda Afonso Henriques, subiu a Av. Almirante Reis para se dirigir ao estádio 1º de Maio, onde os principais dirigentes políticos puderam usar da palavra. Tudo era novo e apaixonante para quem nunca tinha podido expressar livremente as suas ideias.

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